Monday, November 03, 2025

POR QUE OS IRMÃOS SE AFASTAM NA VELHICE?

É estranho como o tempo, esse escultor silencioso da vida pode afastar até mesmo aqueles que um dia dormiram no mesmo quarto, dividiram brinquedos e partilharam os medos da infância. Os irmãos, que um dia foram cúmplices de travessuras e testemunhas dos segredos da casa dos pais, muitas vezes se tornam distantes, quase estranhos, na velhice.

Por quê?
Talvez porque, desde cedo, aprendemos a competir. Por atenção, por afeto, por aprovação. Freud nos falava sobre essa rivalidade silenciosa, escondida nos cantos da alma: a disputa pelo olhar do pai, pelo colo da mãe, pela sensação de ser o “preferido”. E, mesmo quando crescemos, esse desejo de ser visto, reconhecido e valorizado continua. Só muda de roupa.
Aí vem a vida com seus amores, filhos, trabalhos, dores e escolhas e cada um segue seu caminho. Mas a distância real muitas vezes não é geográfica: é emocional. Pequenas feridas não tratadas, palavras mal ditas ou silêncios que se arrastaram demais criam abismos. E o tempo, em vez de curar, às vezes só cobre com poeira aquilo que ficou mal resolvido.
Quando os pais morrem, algo se quebra de vez. Eles eram a ponte, o elo que mantinha todos conectados, mesmo que por um fio tênue. Sem eles, o que resta são lembranças que não têm mais a quem recorrer… e irmãos que não sabem mais como se olhar nos olhos.
Na velhice, a alma já está cansada. Muitos preferem o silêncio à reconciliação. O orgulho ganha outra roupagem: a de “deixar pra lá”. E assim, os irmãos se tornam apenas rostos em fotos antigas, nomes mencionados com saudade ou com mágoa.
Mas às vezes, uma simples ligação, uma visita inesperada ou um gesto humilde pode reacender aquilo que o tempo tentou apagar. Porque, no fundo, todo irmão é um espelho do nosso passado e talvez seja justamente isso que mais dói… ou que mais cura.

Elcio Nunes
Cidadão que crê na força dos reencontros!