Envelhecer é um processo que traz consigo muitas transformações — no corpo, na rotina, nas relações. Com o tempo, muitos vínculos se perdem: filhos que crescem e seguem seu caminho, amizades que se distanciam, perdas de companheiros(as) de longa data. Diante dessas mudanças, é natural que o desejo de se sentir amado, acolhido e necessário cresça. No entanto, quando esse desejo ultrapassa os limites do equilíbrio emocional, pode nascer a dependência emocional — um sentimento profundo de vazio quando o outro não está por perto.
Na terceira idade, a dependência emocional pode ser ainda mais perigosa. Ela muitas vezes se disfarça de carinho, de apego, de amor. Mas, aos poucos, pode transformar-se em medo: medo da solidão, do abandono, de não ser mais importante. E quando uma pessoa passa a viver em função do outro, esquecendo de si, abre-se espaço para traumas emocionais profundos e, por vezes, irreversíveis.
Essa dependência pode levar ao isolamento, à submissão e até mesmo à tolerância de relações abusivas, por receio de ficar só. A autoestima fragilizada reforça a ideia de que “não se é mais capaz” de recomeçar, de fazer novas amizades ou de encontrar o amor de forma saudável.
Além disso, o trauma emocional causado por rejeições, perdas ou rompimentos em idade avançada pode afetar a saúde mental de forma intensa — gerando depressão, ansiedade e até doenças psicossomáticas. Em casos mais graves, a pessoa pode perder o sentido da vida, tornando-se emocionalmente refém do outro.
Mas é importante lembrar: nunca é tarde para aprender a amar-se primeiro. A maturidade traz também a oportunidade de se olhar com mais compaixão, de se conhecer profundamente e de entender que a companhia mais importante é a própria. Relações saudáveis se constroem quando há liberdade, respeito e reciprocidade — não quando um precisa do outro para sobreviver emocionalmente.
Buscar ajuda, seja por meio de terapia, grupos de apoio ou novas vivências, pode ser o primeiro passo para quebrar os laços da dependência emocional e reencontrar o equilíbrio. Porque na terceira idade, assim como em qualquer fase da vida, o amor deve libertar — nunca aprisionar.
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Selma de Oliveira