Vida e Obra de Manoel Martins Gomes Lima! – Jornal "Morro do Geo.", de João Monlevade.
* Edelberto Augusto Gomes Lima!
Na fotografia , Manoel Martins Gomes Lima recebendo uma homenagem do então diretor da Belgo-Mineira. Dr. Geraldo Parreiras.
Na década de 1950, foi o farmacêutico responsável pela farmácia da Belgo-Mineira em João Monlevade, então situada na galeria da chamada Praça Ayres Quaresma, saudosa Praça do Cinema. Ele residia com a esposa e filhos na parte de cima da farmácia que, posteriormente, seria ocupada pela Rádio Cultura. Um de seus filhos é o autor desse artigo. A sua esposa foi professora do Grupo Escolar João Monlevade, situado na mesma Praça, onde também estudou os seus filhos.
Em 1956, convidado por Dr. Geraldo Parreiras – então promovido a Superintendente da Usina da Belgo Mineira em Sabará -, para lá transferiu-se com a família para ser o farmacêutico da farmácia da Belgo naquela localidade.
Em 1931, após graduar-se em Farmácia, retornou à cidade natal e logo engajou-se na política local, tendo primeiramente se tornado vereador e depois, aos 33 anos de idade, prefeito. Lá era conhecido como “Neneco”.
Foi o fundador em sua terra natal do famoso partido P.S.D (Partido Social Democrata), responsável pela eleição de diversos governadores e presidentes, tais como, entre outros, Juscelino Kubitschek de Oliveira, o eterno JK.
Patrocinou, em 1946, a primeira edição do livro de Luiz Prisco de Braga, “História do Município de São Domingos do Prata”.
O município, predominantemente rural, além de estar em curso a Segunda grande Guerra Mundial, impedia grandes realizações, de modo que se fazia o possível e até o impossível, mas não o ideal. Mesmo assim, Neneco conseguiu carrear grandes benefícios, entre eles:
Abastecimento de Água Potável
Neneco marcou o seu curto período na liderança do Executivo pratiano com uma grande obra, que, segundo a imprensa local, inseriria o seu nome na história do município e contaria com a gratidão de diversas gerações de pratianos.
A cidade enfrentava um crônico problema de falta d’água. Neneco, enfrentando e transpondo obstáculos vários, conseguiu solucioná-lo de acordo com as circunstâncias da época. Na área educacional foi marcante a sua atuação com as construções de diversas escolas municipais, além de ter patrocinado uma grande reforma no grupo Escolar Cônego João Pio.
Estrada de Rodagem do Prata a Marliéria e Jaguaraçu
Obra de grande importância, eis que São Domingos do Prata era um grande produtor rural e essa via possibilitava o escoamento de grande parte de sua produção.
Na área da saúde executou uma grande reforma no Hospital Nossa Senhora das Dores, que na época atendia todo o município.
Outra obra marcante em sua gestão foi a urbanização da Praça da Matriz, então denominada de Manoel Martins Vieira.
A imprensa local na época noticiou que em terrenos adjacentes à Praça da Matriz, a Prefeitura Municipal dividiu lotes onde seriam construídos edifícios comerciais. Já Felipe Semião, forte comerciante na cidade, estava construindo o Hotel Semião, além do bar.
Ainda em sua gestão, criou o Tiro de Guerra, o que evitaria que os jovens ao completarem 18 anos fossem prestar o serviço militar em locais distantes.
Em face da necessidade de povoar o imenso território de São Domingos do Prata, Neneco estimulou a vinda de imigrantes, especialmente de italianos.
Em l944, por iniciativa sua, inaugurou, juntamente com o Padre Geraldo Trindade Barreto, o marco comemorativo do Centenário da Paróquia de São Domingos do Prata, data que foi abrilhantada pelo Tiro de Guerra de João Monlevade e com a presença do Dr. Geraldo Parreiras, então Diretor da Belgo-Mineira em Monlevade.
Neneco tinha uma característica marcante, como me relatou alguns anos antes de seu passamento, o saudoso Padre Pedro Vidigal, que eram os poderes de conciliação e de moderação, poderes esses úteis no exercício da espinhosa função de prefeito, mormente em uma época tão conturbada e de escassos recursos financeiros e técnicos.
Saltando o fosso das divisões partidárias, não distinguia adversários políticos e nem amigos, usando essas virtudes para perseguir o ideal que todos almejavam: o bem comum. Dentro das condições existentes naquela conjuntura, Neneco executou, ao unir as forças do município, a arte do possível e o fez com maestria.
Ele soube também vivenciar esse preceito do filósofo Condorcet:
“É mais suave e útil viver pelo outro, pois assim que se vive verdadeiramente para si mesmo”
. Era procurado por pessoas simples do povo, que queriam ouvi-lo não apenas como farmacêutico e líder político, mas como conselheiro, como orientador de almas e corações que ele tão bem sabia ser. E, para isso, dava seu próprio exemplo de vida.
* Advogado aposentado, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, cidadão honorário de Sabará e autor de 36 livros sobre a história de Minas Gerais, todos disponibilizados no Google na Galeria Edelberto, incluindo um sobre a Belgo Mineira em Sabará e João Monlevade!