Não quero estar em lugares onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte... Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: "as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos". Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa.
Thursday, September 19, 2024
ILUSTRAÇÃO DE BETTINA BALDASSARI
Quantas vezes achei que fosse o fim, e a vida me surpreendeu, alargando
minha estrada, me mostrando outra direção, me dando um novo fôlego para
caminhar mais um tanto...
Quantas vezes me julguei frágil demais, mas percebi a força que tinha,
quando a única opção era secar as lágrimas e continuar.
Quantas vezes me senti perdida, até descobrir que estava, finalmente, no
caminho certo, e todos os passos errados que dei, foram ponte para que eu
chegasse até aqui.
E, quantas e quantas vezes ainda me surpreenderei com as voltas que o
mundo dá, com os desfechos mais improváveis, com a terra seca, rachada,
ganhando um canteiro de flor!
Não somos donos de nada e, de nada sabemos.
Às vezes, somos escolhidos, quando pensamos escolher. E, por mais que a
gente teime em desacreditar, tem sempre um sonho novo, esperando pra nascer.
Eunice Ramos em VOU TE Contar.
Tuesday, September 17, 2024
SOBRE ESTAR SOZINHO
Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o
início deste milênio. As relações afetivas também estão passando por profundas
transformações, revolucionando o conceito de amor. O que se busca hoje é uma
relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade,
respeito, alegria e prazer de estar junto e não mais uma relação de
dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.
A ideia de uma pessoa ser o remédio para nossa
felicidade, que nasceu com o romantismo, está fadada a desaparecer neste início
de século.
O amor romântico parte da premissa de que somos uma
fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos.
Muitas vezes ocorre até um processo de
despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher. Ela abandona
suas características para se amalgamar ao projeto masculino.
A teoria da ligação entre opostos também vem dessa
raiz: o outro tem de saber fazer o que eu não sei.
Se sou manso, ele deve ser agressivo e assim por
diante. Uma ideia prática de sobrevivência e pouco romântica, por sinal...
A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos
trocando o amor de necessidade, pelo amor de desejo. Eu gosto e desejo a
companhia, mas não preciso, o que é muito diferente.
Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo
individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas e aprendendo a
conviver melhor consigo mesmas. Elas estão começando a perceber que se sentem
fração, mas são inteiras.
O outro, com o qual se estabelece um elo, também se
sente uma fração. Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um
companheiro de viagem.
O homem é um animal que vai mudando o mundo e
depois tem de ir se reciclando, para se adaptar ao mundo que fabricou.
Estamos entrando na era da individualidade, o que
não tem nada a ver com egoísmo. O egoísta não tem energia própria; ele se
alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral.
A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição
e significado. Visa a aproximação de dois inteiros e não a união de duas
metades. E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua
individualidade. Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho,
mais preparado estará para uma boa relação afetiva.
A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao
contrário, dá dignidade à pessoa.
As boas relações afetivas são ótimas, são muito
parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem.
Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado.
Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir
não serve de referência para avaliar ninguém.
Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma
gêmea e, na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto.
Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em
quando, para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal.
Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a
paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo e não a partir do
outro. Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto
às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.
O amor de duas pessoas inteiras é bem mais
saudável. Nesse tipo de ligação, há o aconchego, o prazer da companhia e o
respeito pelo ser amado. Carinho e Ternura.
Monday, September 02, 2024
POR MAIS...
"Por mais que uma pessoa seja conhecida, por mais diplomas que ela adquira ao longo de sua vida, por mais culta que ela seja, o que faz dela gente honrada mesmo, é a humildade, é o jeito que ela trata as pessoas, é a forma como ela expõe a sua opinião em relação a determinado assunto sem ferir o outro, é o respeito. Não há outro caminho."
O IPÊ E O AMIGO
Não há florestas de Ipês...Há Ipês nas florestas. Um aqui, outro lá...Como não há multidão de amigos. Há amigos na multidão. Raros, consistentes, mas poucos. O Ipê marca sua presença na paisagem, como o amigo marca sua presença na memória. No Ipê, a flor é frágil e passageira. O tronco é sólido e resistente. O tronco é a alma. A flor é a palavra. No amigo, mais que na palavra, é na alma que se apoia o coração que busca. Mais importante que aquilo que se diz, é aquilo que se é. ... O Ipê chama atenção, mas não se exibe. É assim com o amigo. Presente na hora exata. Não alardeia a amizade que oferece. O Ipê nada pede. Nasce espontâneo e não fica a exigir cuidados. Como o amigo, que não é interesseiro. Entre tantas lições que nos dá o Ipê, esta, da amizade, é das mais preciosas. Não é rico, porque não tem frutos. Consegue ser amado por aquilo que é. Ele vem dizer, todos os anos, que a amizade é um tesouro. Como o ouro da cor que o reveste. Cultive a amizade, ela é forte como o tronco.
(Padre
Zecchin)