Outro dia fui visitar Zé dos Anjos, amigo velho como a Sá Mundica.
Zé dos Anjos, na verdade José Angelo, é meu conhecido e amigo há muitos anos.
Sempre que posso, vou visitá-lo. A propósito, com seus quase 90 anos, ele continua a fazer jus ao apelido "Zé dos Anjos", também porque sempre foi generoso e atencioso com as pessoas, embora não fosse homem de posses.
Encontrei-o meio triste, um pouco desanimado com a vida e certas modernidades que ele não aceitava bem. Havia perdido um irmão recentemente e chorava quando se lembrava dele e dizia : "menino bão", "alegre", "trabalhador", sinto falta dele, todos os fins de semana Ele vinha me visitar.
Tentei diminuir a sua melancolia mudando de assunto; foi quando Ele passou a falar que as pessoas tinham perdido o amor pelo próximo, que os filhos não cuidavam dos pais, que "este povo de hoje faz o que quer, sem o mínimo de cuidado com a consciência".
Como homem mais velho, sentia-se muito só porque achava a conversa das pessoas sem "pé nem cabeça". Quanto aos jovens, achava-os um tanto desorientados, com esta tal de 'droga' que passou a "rolar por aí". Mas também, com tanta desonestidade e maus exemplos, não poderia dar coisa melhor. Sentia-se excluído deste mundo, que ele afirmava estar "de ponta cabeça". Dizia-se meio desiludido com a desunião entre os familiares, que brigavam por coisas bobas e valorizavam tanto o dinheiro e os bens materiais.
Percebi que por trás deste desilusão havia um pouco de depressão pelas perdas que a vida vai nos impondo, até chegar a um certo desencanto.
Sabendo da sua fé e da sua vida cristã, convidei-o a fazermos juntos uma oração, e o fizemos. Dei nele um abraço de despedida, prometendo que voltaria a visitá-lo mais vezes, o que parece ter sido bem acolhido por ele.
Despediu-se de mim fazendo um elogio a meu pai: "Petrônio, seu pai era meu amigo e foi um homem de coração imenso".
Agradeci, e falei: "fique com Deus"com uma sensação de total impotência perante certas coisas deste mundo de meu Deus.