- Bom dia, doutor.
- Bom dia. Vamos sentar. Fique à vontade.
-
Brigado.
-
Como é que vão as coisas?
-
Mais ou menos.
-
O que que o senhor sente?
-
Problema de pressão.
-
Alta?
-
Não, doutor. Baixa.
-
Tem certeza que é baixa?
-
Tenho sim senhor.
-
Vamos ver os sintomas. Desânimo?
-
Não senhor.
-
Preguiça?
-
Não senhor.
-
Muito sono?
-
De normal pra pouco.
-
Zoeira na cabeça?
-
Também não.
- O senhor não parece ter pressão baixa, mas vamos tirar a dúvida.
Antes que o médico pegasse o aparelho, o cliente, decidido e meio aflito, foi logo dizendo:
-
Carece não, doutor. Eu tenho certeza.
-
O jeito de ter certeza é medir – disse o médico já impaciente.
-
Desculpe, doutor, mas não dá pra medir.
-
Afinal, que é o médico? Primeiro o senhor garante que tem pressão baixa mas não
apresenta nenhum sintoma. Depois, diz que não precisa medir. Agora, que não tem
jeito. O que há?
-
Acho que o senhor não entendeu direito.
-
Não entendi mesmo não - respondeu o médico, irritado.
-
Quem sabe eu é que não consigo explicar? – indagou o cliente com humildade.
-
Por que o senhor não tenta?
-
É difícil... Não sei se o doutor vai compreender...
-
Compreender o quê?
-
O negócio da minha pressão. É baixa mesmo. Eu tenho certeza.
-
E por que tanta certeza?
-
O senhor não vai se ofender?
-
Claro que não, meu amigo. Fique à vontade. Pode falar!
-
É o seguinte. Me desculpe lhe falar assim. Questão da minha barriga. Novidade
que apareceu faz um mês.
-
O que que barriga tem a ver com pressão?
-
Tem não? E o ar que fica lá dentro?
-
Ar?
-
Ar, doutor. Me perdoe, mas vou falar direto, na bucha. Eu sempre, a vida toda,
dava cada peido, era aquele estrondo. De repente fui sentindo que a força tava diminuindo...
Agora só sai aquele traquezinho à toa. Ultimamente cismei, resolvi consultar. Um
compadre meu morreu de pressão baixa. Ando com um medão danado da minha acabar
o restinho que ainda tem. Entendeu agora, doutor?