Cartão escrito por Padre Geraldo
Barreto Trindade(Pároco de Ponte Nova), datado de 1954, endereçado a Benjamim Torres,
enaltecendo o seu trabalho para a implantação da Escola Técnica de Comércio em
São Domingos do Prata
"Benjamin parece frágil, sendo
magro e baixo, mas transmitiu tanta força para a realização do sonho grande de
implantação do Ginásio Estadual Marques Afonso, que transcende a sua dimensão
para se transformar em um símbolo da nossa cidade."
Início da Construção do Colégio
Marques Afonso
Benjamim Torres, fundador do Colégio
Marques Afonso, durante a construção, junto a seu filho Carlos e aos
Trabalhadores da obra
A construção do Colégio Marques
Afonso (levantando as paredes)
O Colégio Marques Afonso, já
concluído
Benjamim Torres fazendo discurso de inauguração
do Colégio Marques Afonso
Inauguração do Oratório do Colégio Marques Afonso
Benjamim Torres Junto aos Professores
do Marques Afonso
Há de ressaltar, a plena e irrestrita
colaboração dos professores, que trabalharam sem receber salários, trabalharam
de graça por um bom tempo
Primeira Turma de Formandos do
Colégio Marques Afonso
Como meu pai
enfrentou a velhice
Desse homem conheço numerosos fatos notáveis, mas nada é mais digno de
admiração do que a maneira como enfrentou a velhice.
Todas as pessoas desejam viver muito, mas, quando ficam velhas, algumas
se lamentam muito.
Certa ocasião, perguntei a meu pai se desejava viver muito tempo, ele
respondeu:
·
nada tenho a reprovar em relação à velhice, os frutos dela são todas as
lembranças que adquiri do passado;
·
os velhos não devem se apegar, nem renunciar ao pouco de vida que lhe resta,
porque ninguém é bastante velho para não viver vários anos a mais;
·
saber distribuir o tempo é saber aproveitá-lo;
·
as pessoas agradáveis suportam facilmente a velhice; o temperamento e a
beleza estão em todas as idades;
·
toda idade tem seu prazer e sua virtude. Não é a força nem a
agilidade que marcam as grandes façanhas de um homem. O que importa
é a maneira de pensar, a sabedoria, a humildade, o
discernimento, a honestidade, a bondade e a verdade;
Portanto, meu Pai acreditava ser o ser humano a origem e
o fim de todas as coisas na sociedade. Ele entendia que as pessoas, através do
estudo e trabalho, buscam a
sobrevivência e o crescimento da espécie.
Gostava de dizer: velho sim, velhaco jamais.
Enfatizava que chegou àquela idade tendo permanecido ativo,
trabalhado sem descanso desde novo,
sobretudo porque tinha perdído seus pais muito
cedo, criado sua familia, participado do processo da construção
do Colégio Marques Afonso e cultivado o caminho
do bem.
A construção do Colégio foi uma boa lembrança que carregava
consigo. Sentia que ela tinha propiciado às pessoas, desde o mais
humilde ao mais abastado, sentarem-se lado a lado e terem as
mesmas oportunidades na vida.
Seu grande sonho e desafio foi diminuir as
desigualdades através da educação. Acreditava que não há
limites para os sonhos e não importa o tamanho do seu sonho,
o importante é acreditar.
Ele dizia que a razão que o motivou a lutar pelo
colégio naquela época foi ter observado que muitos
pais não tinham condições financeiras de manterem seus filhos estudando fora do
prata.
Sua alegria foi muito grande ao perceber que, depois de construído,
dentre os primeiros alunos matriculados no colégio havia não só pessoas do
Prata, mas também de cidades vizinhas.
Fazia questão de ressaltar que tinha aprendido com sua esposa
Auxiliadora, minha mãe, que o que fazemos de graça recebemos em graça.
Meu pai exerceu seu ofício(odontólogo) com profissionalismo,
dedicação, amor e respeito aos clientes.
As lembranças das coisas boas que realizou o confortaram muito
na velhice. Dizia que seus cabelos brancos e suas rugas eram a recompensa
de um passado exemplar que teve e concluía afirmando:
"assim como o bom vinho, as boas ações que praticamos no passado
não azedam com o passar do tempo; Deus nos fornece, aqui na terra, um
hotel provisório e não um domicilio definitivo".
Essas são as lembranças que tenho do meu Pai, Benjamim
Torres. Guardo com muito carinho a imagem de um homem bom que se
sentia muito bem em fazer o bem, que lutou muito para
o bem da coletividade, que nos deixou muito
orgulhosos com seus gestos, e soube envelhecer com sabedoria,
embora tenha partido, continua vivo em meu coração.
Cristóvão Martins Torres
O Amor foi muito
forte e mudou seus planos
Reza a lenda de família que Benjamim
Torres, após um estágio como dentista em Ponte Nova, decidiu desempenhar sua profissão,
para o qual havia estudado, na região do Vale do Aço.
Era uma área próspera, o que seria
benéfico ao seu desenvolvimento profissional.
Ele não podia imaginar, no entanto,
que sua história estava prestes a mudar; a caminho do Vale do Aço, passando por
Nova Era, Benjamim foi surpreendido por uma tempestade, na estrada que levava a
fazenda da vargem.
A tempestade foi tão intensa e forte,
que acabou levando a ponte de madeira que servia de passagem, impedindo a
viagem, pelo menos, temporariamente.
Ele foi até a sede da fazenda da
vargem, onde foi recebido por Tineco, dono da fazenda, pediu a ele se poderia
passar a noite na sede, já que não tinha como seguir viagem, seguir com seus
planos.
O fazendeiro aceitou com bom gosto,
e, durante a hospedagem, Benjamim acabou conhecendo a filha do fazendeiro,
Maria Auxiliadora.
Benjamim, então, mudou seus planos.
Resolveu se casar e formar família
com Maria Auxiliadora, desistindo dos planos de ir para o Vale do Aço..
Resolveu se estabelecer em uma cidade
próxima, onde abriu um consultório de dentista.
Profissional dedicado, o pedido de
casamento foi aceito prontamente por Tineco.
Foram morar no Prata, formaram
família e realizaram seus sonhos.
No Prata viveram por cinquenta anos,
tiveram cinco filhos e foram felizes juntos.
Cristóvão Martins Torres
Feitos para a
comunidade pratiana se orgulhar
Recentemente, por uma fonte
confiável, ficamos sabendo que o Ginásio Marques Afonso foi o décimo segundo
ginásio estadual instalado no Estado de Minas Gerais. A notícia revela um fato,
por mim desconhecido, que merece destaque no conjunto de circunstâncias que
marcaram a instalação do nosso ginásio. Na década de 1950, mesmo com todas suas
carências, o Prata se viu envolvido com o sonho de conseguir um ginásio
estadual para a cidade. Um dos símbolos desse movimento, Benjamim Torres,
com a sua obstinação pela ideia, foi aos poucos contagiando as pessoas
e acabou conseguindo uma mobilização de forças atuantes na cidade
para esse objetivo. Naquela época, ginásio estadual era coisa rara em Minas . O
governo instalava poucas unidades por ano e priorizava as cidades com mais
densidade populacional e econômica do Estado. Não havia como furar a fila
da hierarquia definida , porque era grande a disputa das cidades para ter o seu
ginásio, uma vez que, por toda parte, a maioria dos jovens estava financeiramente
impedida de fazer o curso secundário, disponível apenas em alguns colégios
tradicionais, de propriedade privada, com pagamento de anuidade, e localizados
fora de suas residências. Com tanta competição na área política, a única
alternativa viável passou a ser idealizar um projeto para implantar o ginásio
de forma diferente do que se adota hoje. Assim, a Secretaria de Educação
delineou o que se pode chamar de " caminho das pedras", definindo
como exigências que a cidade implantasse uma escola municipal de curso médio,
como precursora do ginásio estadual, e construísse às suas expensas o prédio
para o ginásio funcionar. Com isso, caberia ao governo apenas fazer a
transformação de um estabelecimento de ensino em outro do mesmo nível, sem que
houvesse constrangimentos com relação à hierarquia no meio político estadual..
Para conduzir os trabalhos previstos nesse pesado desafio, foi criada uma
Fundação, de fé pública, denominada Sociedade Beneficente de Cultura, a quem se
atribuiu as funções de coordenação dos trabalhos comunitários e a articulação
dos contatos com o órgão do Estado. A primeira medida adotada pela Sociedade
Beneficente de Cultura foi instituir, no ano de 1954, a Escola Técnica de
Comércio Pratiana, a qual funcionou no prédio do Grupo Escolar Cônego João Pio,
em horário noturno, com a plena e irrestrita colaboração de professores, que
trabalharam sem receber salários. Simultaneamente ao funcionamento da
escola, a Sociedade Beneficente dava início à construção do prédio
onde deveria funcionar o ginásio estadual, quando criado. O prédio foi
construído com dinheiro de doações do povo e de amigos da nossa cidade.
Depois de concluído, o prédio foi doado ao Estado , cumprindo-se , dessa
forma, com muita dedicação e trabalho, as exigências fixadas pela Secretaria de
Educação. Em 1956, foi assinado o ato de criação do Ginásio Estadual
Marques Afonso, e o Prata, brilhantemente passou à frente de mais de
quatrocentas outras cidades de Minas Gerais no objetivo de ter o seu ginásio.
Os alunos matriculados no curso básico da Escola Técnica foram absorvidos pelo
ginásio estadual, mediante prova de avaliação acompanhada pelo Ministério de
Educação, retratando a correção e a seriedade dos procedimentos nesta
fase inicial do curso secundário. A Escola Técnica de Comércio Pratiana
funcionou ainda por um bom período, após a inauguração do ginásio, porém, com o
curso técnico, ampliando a possibilidade de formação de alunos no curso médio
complementar ao secundário. Só admitindo algo como um sopro divino, presente
nas grandes obras, e outro tanto do trabalho de pessoas com paixões intensas, é
possível explicar essa história notável da Sociedade Beneficente de
Cultura, com o pensamento único de deixar um legado duradouro para os jovens
pratianos. O prédio, hoje utilizado como grupo escolar, deve ser conservado
como um marco histórico, pela sua importância na criação do Ginásio Marques
Afonso. Pelo pouco aqui revelado, dá para se ver que há muitas histórias
ligadas ao nosso ginásio esperando para serem contadas, e que ajudariam a
formar a memória da cidade.
Cristóvão Martins Torres
O nascimento e a morte são as
fronteiras da vida, com as quais temos de conviver. A aceitação da
transitoriedade da condição humana ajuda a aliviar o sofrimento que a ideia da
morte costuma trazer. Pode-se sonhar com o aumento da expectativa da vida, mas
não se pode mudar o fato de que tudo vai acabar um dia, mesmo com os avanços da
medicina moderna, e ainda que o maior desejo do homem seja a imortalidade.
Pesquisas demonstram que pessoas com forte grau de envolvimento religioso,
independentemente da crença, têm menos medo da morte. A fé ajuda a superar a
ansiedade em relação à nossa finitude. Se há uma vida que se segue à morte,
existiria então uma continuidade do espirito. A visão espiritual da morte nos
dá alivio para enfrentá-la, mas também implica em desapego ás coisas materiais,
e a ilusão de eterna beleza e jovialidade, comuns nos dias de hoje, acabam
gerando mais tristeza e sofrimento com o fim inevitável de nossa existência. Um
filósofo alemão pediu pelo menos um médico para acompanhar o seu enterro e que
o seu caixão tivesse as laterais abertas. Explicou que pretendia mostrar
que o médico nada pode fazer quando a morte chega, e que as aberturas laterais
permitiriam chamar atenção de que o morto segue de mãos vazias, nada levando
consigo. Santo Agostinho escreveu a seguinte reflexão sobre a morte: Siga em
frente, a vida continua. A morte não é nada. É somente uma passagem de
uma dimensão para outra. Eu estou, agora em uma outra vida , não podem
atormentar essa minha passagem com tristeza e lágrimas. Vocês são vocês. Estão
vivos , a vida não pode parar. O que eu era para vocês continuo sendo. A vida
significa tudo que ela sempre significou, o fio não foi cortado. Fala-me como
sempre falaste. Dá-me o nome que sempre me deste. Não quero tristeza, não quero
lágrimas, quero orações.
Cristóvão Martins Torres
Auxiliadora
Torres: Minha Querida Mãe
Há muito tempo venho querendo
escrever uma crônica sobre minha Mãe, Auxiliadora Torres, mais conhecida
(sobretudo em São Domingos do Prata) como Dona Dodora. Porém, quando começo a
escrever sou tomado por uma emoção tão grande que chega a ser difícil terminar
o texto.
Filha de Fazendeiros, criada na
Fazenda da Vargem, minha Mãe foi e continua sendo muito querida em São domingos
do Prata, sobretudo pelas boas ações que praticou. Mulher muito espiritualizada
e de muita fé, pensava sempre no próximo. Dona Dodora não só acreditava no
mandamento maior do Cristianismo, o do amor a Deus e ao próximo, como também e
sobretudo o aplicava em sua prática cotidiana. Por isso, todos nós da família
ficamos muito felizes pelo fato de, em São Domingos do Prata, ela ser lembrada
com tanto amor ainda hoje.
Para mim, que sou seu filho,
permanecem o amor e a saudade eternos de minha querida Mãe!
Aprendi com meu pai, desde cedo, a
perceber que na intimidade do cotidiano e da sociedade é que se desenrola a
busca de um futuro melhor.
Que a sociedade é cercada de fatos políticos, econômicos, sociais, religiosos e
educacionais.
Que no seio da família, a criança recebe tarefas simples, compatíveis com sua
idade, onde ela aprende a alcançar resultados, principalmente, durante a
infância onde estão sempre abertas a aprenderem.
É aí que começam a aprender seus direitos e deveres, e a desenvolver a
autodisciplina.
Criado na escola do amor, do dever e da responsabilidade, ela absorva as
crenças e valores, indispensáveis para uma vida adulta.
Se bem criada, teve berço, na fase adulta está assegurada a sua sobrevivência.
Uma vez construída a base da sobrevivência, pode pensar na construção do
conhecimento.
Acreditava que a base de todo processo da vida, passa pela família e pela
educação, sendo a instrução um ato de educação, doação e amor.
Que a sociedade oferece inúmeras oportunidades para o jovem que recebeu a
educação certa.
Quando ele atinge a vida adulta, a fase produtiva, esta preparado para
trabalhar com disciplina.
Num mundo que perdeu a estabilidade, a capacidade de pensar, parece ser a
ferramenta certa que permite a comunicação com o futuro e a sobrevivência.
O recado tá dado meu pai, espero que não seja em vão, ou será que precisam
escutar a sua voz.
Cristóvão Martins Torres