JORNAL " A VOZ DO PRATA" 9 DE NOV DE 1924

(A noticia que vou retranscrever a seguir, faz lembrar-me, principalmente para quem passou a infância e adolescência no interior, da passagem bíblica: “quem nunca pecou que atire a primeira pedra. A adrenalina ia a mil ante o medo de se tomar uma descarga de chumbinho).

“Já há dias vinham os rapazes da Companhia do Circo, ora nesta cidade, segundo ouvimos, invadindo à noite os quintaes em excursões depredatórias.
Aconteceu, porem, que na noite de 6 para 7 do corrente um rapazote dos taes foi alta noite ferido no pé por tiro quando andava pelos quintaes referidos. Não se deve, é verdade, fazer justiças pelas próprias mãos, devendo-se recorrer primeiro ás autoridades responsáveis pela tranquilidade publica e garantia das propriedades individuaes. Entretanto, quem, esquecendo os deveres que a todos cabe de respeito á propriedade alheia, assalta alta noite os quintais sempre sujeito a decepções dessa ordem. Podia ser peór; em vez de alguns grãos de chumbo no calcanhar, poderia ter perdido a vida. O Dr. Delegado de Policia tomou conhecimento do fato.”.
(Ortografia e vocabulário no original).

(No casa de meu avô, Joaquim Gomes Lima, cuja residência ficava do lado esquerdo da casa do Dr. Pedro Rolla Sobrinho (os mais jovens lembram da Dona Cininha e Sr. Argental nela morando), tinha um quintal, com divisa para o rio da Prata, cheio de árvores frutíferas, principalmente jabuticabas.
Os jovens na época faziam constantes incursões naquele quintal. Eles vinham do campo do Lava-Pés, atravessavam o rio e entravam pelos fundos. O vovô, na sua extrema bondade, de tudo sabia e fingia nada ver. Algumas vezes ele apontava as folhas do alto (grimpas) das árvores mexendo, mas nada fazia porquanto dizia que era muita fruta para ele e minha vó. Eles nessa época moravam sozinhos, eis que os filhos já tinham saído de casa. Naquela casa e quintal, inexistia o risco de espingarda de chumbinho. Porém esse risco, em muitos outros quintais, não só do Prata, era uma constante.).