Um verídico causo pratiano-monlevadense...
Lá pelos anos 60,
um vendedor de tecidos, caixeiro viajante vindo de Belzonte, passou por
Monlevade pela primeira vez e fez a praça, que era bem restrita: na Vila Tanque
anotou os pedidos da Casa Sampaio e da Dona Santa; na Praça do Mercado, da D.
Faride e do Empório de Tecidos.
Para preencher a
cota de pedidos, na Praça do Mercado mesmo pediu informações sobre as cidades
mais próximas e resolveu tentar mais vendas em São Domingos do Prata.
De Monlevade ao
Prata a estradinha era de chão, um pó vermelho que parecia rouge... O sujeito
chegava ao destino com a roupa e o cabelo completamente empoeirados de
vermelho, pedindo banho. Além disso, era muito acidentada.
Com as informações
de como chegar ao Prata, tocou em frente, comendo poeira.
Chegando do pé do
Morro do Pião, subida íngreme serpenteando rumo ao céu, o vendedor sentiu o
carro falhar, resfolegando, soluçando até que... estacou, bem no meio do
poeirão.
O viajante desceu
do carro, abriu o capô e olhou para aquela esfinge chamada motor.
Sem opções, começou a xeretar aleatoriamente
na máquina, mexendo aqui e ali, mesmo sem entender nadica de mecânica. Nova
tentativa de girar a chave... e nada de ignição.
Desolado,
afastou-se alguns metros do e ficou coçando a cabeça, fitando aquela enorme
massa de ferro inerte e inútil, plantada naquela paragem erma.
De repente, ouviu
uma voz grave, misteriosa:
- Confira o cabo da
vela, foi o cabo de vela que se soltou com os solavancos!
Assustado, olhou ao
redor e não viu ninguém.
Já quase duvidando
da sua sanidade, ouviu a voz, que parecia de outro mundo, a insistir:
-O cabo da vela
deve estar solto!
Novamente, deu um
giro de 360 graus para conferir a vizinhança e não viu ninguém, apenas um
cavalo que pastava placidamente junto à cerca de arame farpado.
Mesmo incrédulo, um
tanto assustado, examinou o cabo da vela e confirmou: o defeito era mesmo
aquele que foi sugerido pela voz misteriosa.
Ao girar a chave, o
carro pegou e o nosso amigo, agora aliviado, seguiu viagem rumo ao Prata.
Na cidade,
"fez a praça" e, no final da tarde, entrou num boteco numa rua ao
lado da matriz de São Gusmão. Pediu um biscoito frito e um cafezinho para
enganar a fome, afinal, seu dia tinha sido mesmo agitado e não teve tempo de
almoçar.
No interior, todo
forasteiro é olhado com curiosidade e não falta gente para se aproximar e fazer
o interrogatório de praxe: de onde vem, o que faz, pra onde vai e
questionamentos do gênero.
Em poucos minutos
já estava enturmado com os desocupados que tomavam suas pingas no boteco e
resolveu relatar a experiência passada na estrada. Contou fielmente o caso,
frisando bem a história da voz misteriosa e como o caso foi resolvido.
Ao final do relato,
um dos caboclos presentes, muito sério: dirigiu-se a ele e ouviu-se o seguinte
diálogo:
- Hum...o sinhô
arreparou bem no cavalo que tava junto da cerca?
- Mas é claro, pois
de vivente ali só tinha ele!
- O senhor se
alembra de que cor era o cavalo?
- Preto!
- Seu” moço, o
sinhô deu uma sorte disgramada! Pruquê, se fosse o cavalo castanho, cêtava
lascado... ele num intende nada de mecânica!
(Não tenho a
autoria)