Monday, January 10, 2022

GRATIDÃO E RECIPROCIDADE

Você acredita realmente na gratidão? Fui, num curto período de estiagem das incessantes chuvas, visitar Sá Mundica que eu conheço desde meus 14 anos, Graças a Deus encontrei-a bem, saudável; mas triste. Ela não falou de tristeza, mas ficou bem claro o seu desencanto com o ser humano hoje, e foi categórica em dizer que o louvado e cantado amor, virou interesse. Fiquei calado ouvindo suas argumentações. Acha que a família está em processo de desmoronamento, e isto acontecendo, teremos uma sociedade sem limites e uma grande virtude que é o caráter será substituída pela dissimulação que é a constatação do fim do respeito, da valorização da matéria, e o ter será, como já é, bem maior do que ser.


Senti o chão desabar sob os meus pés, como se estivesse solto no espaço e sem a que me agarrar. Fui tomado por um descontrolado e imponderável sentimento de solidão e desencanto. Custei a recuperar-me, pois era a primeira vez em anos de convivência e admiração por ela que ouvia dela esta total desesperança. Ela, inteligente, professora antiga, sempre observadora da vida falando aquilo com tanta convicção. Vendo meu desaponto, tratou ela de me fazer umas perguntas que na verdade eram mais afirmações.

Repare o relacionamento entre os pais e os filhos, para haver um bom relacionamento é preciso equilíbrio entre direitos e deveres. Não há mais o amor demonstrado por atitudes e sim por Interesse. As pessoas querem receber, mas não querem doar. As famílias eram enormes, treze filhos e todos foram educados com respeito e decência. Hoje, a família tem dois filhos em média, e eles logo se afastam e ridicularizam os seus próprios pais. Outro dia, um vizinho meu foi intimado a Delegacia por suspeita de tráfico de drogas, ao ser levado pelos policiais dirigiu-se ao pai e perguntou : "pai você não fazer nada ? " O pai respondeu calmamente " : quando eu e sua mãe lhe dávamos conselhos, você respondia que " éramos velhos, ultrapassados, que estávamos por fora ". E o pai : "Agora use o seu poder de argumentação para se explicar perante a lei, porque a nossa parte ,eu e sua mãe fizemos" .

Como já era tarde, levantei-me, dei-lhe um leve abraço. Foi difícil dormir aquela noite.

E aquela letra musical, vinha a minha cabeça : " ninguém é de ninguém, na vida tudo passa, ninguém é de ninguém, até quem nos abraça".