Monday, September 04, 2006

MENOS AMOR


O preço da vida em comum não deve ser pago com uma relação de sofrimento. Há casos em que a mulher ama demais, tanto que se sujeita ao desprezo, indiferença e até a maus-tratos. São as relações com os homens que amam de menos.

Algumas insatisfações com o casamento, a família e a amizade só podem ser resolvidas através do sentimento do amor. Companheirismo, sexualidade, prazer e a construção da vida devem ocorrer num ambiente de harmonia.


A incapacidade de amar é uma doença que acomete, principalmente sob a forma de dominação e posse, ao sexo masculino; enquanto a forma de desamor mais comum ao sexo feminino é a submissão, a dependência e a renúncia.


No homem, a incompetência em ser afetuoso aparece sob a forma de abuso de poder, de autoritarismo e de um certo prazer camuflado em ver a mulher sofrer. Essa incapacidade amorosa de alguns homens têm várias razões. A primeira delas remonta à relação que o homem teve na infância na sua primeira experiência com mulher, ou seja, com a mãe. Ou foi muito protegido pela mãe e não aprendeu que o outro existe também com necessidades afetivas. Por isso, quer receber sempre toda a atenção da esposa, sem nenhuma reciprocidade. E, quanto mais a mulher se anula para atendê-lo, mais satisfeito se sente. O seu nível de exigência é sem limite e a mulher se sente constantemente em falta, com culpa, com a incumbência de fazê-lo feliz, o que é impossível por dois motivos: primeiro porque ninguém faz alguém feliz e; segundo, porque eles são insaciáveis, ou então não foram amados pelas mães e nem sabem o que é amar.


O apego desenvolvido pelas mulheres é acompanhado de uma raiva reprimida à figura feminina, traduzida nas formas de relacionamento tão denunciadas pelas mulheres: frieza, críticas, impaciência, irritação, ar de superioridade e o famoso jogo do desprezo, do abandono e do ciúme. No fundo, eles maltratam as mulheres por medo da rejeição, fazem questão de se sentir superiores, sempre tendo razão, e as brigas constantes não têm por objetivo resolver os problemas, mas destruir a figura feminina, culpando-a pelo fracasso do relacionamento.


Nós conhecemos bem o deficiente físico; ou o deficiente intelectual, mas não prestamos atenção nos deficientes afetivos. Se para andarmos, precisamos das pernas e da competência motora, para nos relacionarmos bem, precisamos da competência amorosa. Há pessoas que não sabem ou não conseguem amar. São pessoas que sofrem e produzem sofrimento a quem delas se aproxima ou com elas convive. O medo do abandono, da rejeição, da traição e de serem magoados colocam os homens que amam de menos numa posição de defesa e, ao mesmo tempo, de ataque às suas parceiras. Em casos extremos, são capazes de agredir fisicamente e até matar suas mulheres.


Mulheres que amam demais e homens que amam de menos são neuroticamente complementares. Daí a dificuldade de se separarem. Permanecem durante anos nesse jogo em que uns sentem prazer em bater e outros em apanhar. É comum, nesses casais, nos intervalos da violência, as juras de amor, a prática compulsiva de sexo e o pedido apaixonado de perdão. Como, porém, a causa fundamental é a incapacidade de amar, logo em seguida recaem na repetição do drama e da dor. O contrário do amor é o medo. E a louca solução encontrada é destruir o objeto do medo que deveria ser o objeto do amor. Maltratar e desprezar a pessoa que se diz amar. O que salva é que a invalidez amorosa tem cura, não é uma invalidez permanente. Todo processo terápico, todo processo religioso, tem por objetivo nos ensinar a amar.


Quando descobrimos que a única solução para sermos felizes é o amor e percebemos a nossa dificuldade de amar, estaremos entrando na senda da felicidade. Sem amor, enredamo-nos na teia da competição e da hostilidade com o outro, gerando em nós e em nossos relacionamentos um profundo vazio, tédio e depressão.