Friday, April 20, 2012

CASOS, CAUSOS & ACASOS


PRATA 1960

 


 Meu pai era meio “contador de causos”. Barbeiro de profissão, o salão estava sempre cheio. Futebol, política, jogo de cartas, damas, loteria e muito papo. Eu, engraxate oficial das botinas usadas àquela época, marcava meu ponto às sextas e sábados. Meu pai afiava a navalha e eu na escova com graxa nugget: “Olha o lustro carioca, suja mas não reboca”.
 
Ali ouviam-se estórias e histórias, mentiras e verdades, como em toda barbearia ou sapataria (Salve, salve Zé Coló!).
 
Certa vez um estudante pratiano contou que uma onça saiu de Ouro Preto e veio beber água na lagoa da Mata do Parque (perto de Dionísio). Verdade?...
 
De quando em vez fico meio ensimesmado e martelam em minha mente algumas expressões e bordões que ouvia, como: “Sô Nô esse negócio é um ministério.” (mistério), “Coitado de fulano, ta no fiofó de Tia Chica” (passando aperto), “Será o Benedito?” (mote político que se popularizou), “Que prazê ocê aqui no meu humilde casebre choupana” (visita a morador rural), “Coitado do Brigadeiro!” (Política UDN – PSD), “E a gaúcha do Garrincha?” (futebol), “Já tá rasgando dinheiro?”(se o cara já tava doido), “Ora por que meu Deus?” . Eugênio ( ogênio ) do Gandra meio chamuscado de golo, “Ruim assim mesmo tá bem bão” ( minha avó Leonor ), “Minha mulher não, minha dona” (do mesmo Eugênio), “Alivanta Valinho” (Domingos Enfermeiro do Hospital com Valinho (pai de Zé Guido e Nica))”.
 
É por isso que o povo pratiano é fácil de ser amado, linguagem inocente, muita ingenuidade e um tempero com muita simplicidade.