Friday, July 17, 2020

ANDO DEVAGAR

Ando devagar, porque já tive pressa
Pressa de ir embora
De largar tudo para trás
Desistir da caminhada
Mas hoje, hoje não, hoje ando, que nem Siriema no pasto
Devagarinho, medindo os passos
Com a coragem pra ficar e cantar a cada pôr do sol.

Ando devagar no passo curto dos meus filhos, no passo lento  dos meus pais.
Porque se acelero os passos corro o risco de deixar os filhos para trás, não os ver crescer, Desabrochar,virar flor, e se apresso demais o passo, perder quem sabe a última primavera dos meus pais, antes da chegada do outono da vida.

Ando devagar pra poder olhar por onde piso e assim não esmagar nada e nem ninguém, por causa da minha desatenção ou minha forma ainda egoísta de caminhar

Ando devagar pra perceber o sabiá cantador, o canarinho afinado, o João-de-Barro caprichoso que com o barro esquecido no canto de estrada faz seu lar

Quero também ser assim, João-de-Barro da vida que faz do barro o que a enxurrada  oferece as paredes de si mesmo, forjada no capricho do trabalho e no efeito do tempo

Ando devagar pra pensar um pouquinho mais antes de agir
Escolher as palavras certas pra não machucar ninguém, nem maltratar ninguém,
Ando devagar enfim, pra ter tempo para refletir numa ideia nova, pra sondar um caminho novo, pra aquietar a mim mesmo por alguns minutinhos e poder escutar quem sabe no silêncio da caminhada a voz que guia para o caminho reto. Ando devagar...

Não tenho a Autoria.