Sylvia Brandão
mina
que sobe e desce
a montanha
mansa
como sobra de fogo
linda como nuvem no sol.
Esta cidade
encantada
e menina
é meu pedaço de sonho
meu pedaço de luz
meu estilhaço de cruz.
Era fria e serena
quando vi a primeira vez
essa cidade
montanha.
Pouca água
pouco rio
nenhum riso.
E meu sonho
cobriu o morro
embrulhado de ferro
sem vento
sem chuva.
Meus pés de menina
riscaram o caminho
alma amarrada no sempre
como peso de pedra.
Chão.
Escrevo a cidade
meu poema é pó
vai no vento
no barulho
no trem-de-ferro
rangido e reto
estrada sem fim.
Se aqui nasci
o acaso foi sorte
bom gosto
bom tempo.
Por isso sou pedra e silêncio
sou grito e sou sol
sem mãe-d’água
sem saci
sem cachoeira.
No sangue
trago renda
trago doce
o canto do bem-te-vi
sonoro e só
no choro da terra
rasgada no trovão.
Madrugada sem manhã
e sol atrás de nuvem.
Montanha inteira
Pendurada no céu.
