Tuesday, May 15, 2012

CURIOSIDADES - PRATA NA VANGUARDA -
CARRO Á ALCOOL EM SÃO DOMINGOS DO PRATA JÁ EM 1930.

Para quem acreditava que o veiculo movido á álcool é uma invenção recente, vou trazer algumas notícias sobre o tema publicadas, respectivamente, no Jornal “A Voz do Prata’, edições de 5 , 30 de outubro e 21 de setembro de 1930.
“Terminaram hontem os trabalhos da Camara Municipal desta cidade, que esteve em sessão durante a semana, (...........).
Diversas foram as medidas que se resolveram durante a sessão. (.....). Dentre estas se destacam os projectos ns. 3 e 10, pelo valor patriótico a que se destinam.
O primeiro auctoriza ao Executivo Municipal a dar um premio a primeira bomba de álcool que se installar nessa cidade e o segundo isenta de impostos os fabricantes de álcool destinado ao consumo de automóveis.
Como se vê a nossa Camara não se descurou dos interesses colectivos votando essas duas medidas que, se não representa grande auxilio material em virtude das aperturas orçamentárias . representa grande valor moral e patriótico da Edilidade, que deu provas de bem compreender o alcance que envolve tão importante assumpto.
Precisamos lançar mão de todas as propagandas para o barateamento dos meios de transportes, um dos maiores fatores da economia e prosperidade de um povo. 
O álcool motor, como succedaneo da gasolina, nos dá, as melhores esperanças de ver em breve espaço de tempo, resolvido este importante problema, que virá não só baratear o meio de transporte como representar um importante papel na economia nacional.
E assim é, que dando esta nota, felicitamos aos ilustres vereadores à Camara Municipal de São Domingos do Prata, pelas patrióticas medidas que acabam de votar, abordando tão importante assumpto”.
“LEI N. 165 DE 3 DE OUTUBRO DE 1930.
Cria um premio de 500$000 a primeira bomba de álcool-motor que se instalar nesta cidade.
O povo do município de São Domingos do Prata por seus representantes na Camara Municipal decretou, e eu, em seu nome, sancciono a seguinte lei:
Art. 1º - Fica creado um premio de quinhentos mil reis (500$000) para o proprietário da primeira bomba de álcool-motor que se estabelecer nesta cidade, sendo o preço do álcool inferior ao da gasolina.
Art. 2º - O pagamento só será effectuado depois que o interessado houver vendido pelo menos mil e quinhentos litros de álcool.
Art. 3º - Revogam-se as disposições em contrário.
Mando portanto, a todos a quem o conhecimento desta Lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir tão inteiramente como nela se contem e declara.
O Chefe da Secretaria a registre, faça publicar e correr.
Camara Municipal de São Domingos do Prata, 8 de Outubro de 1930.
O Presidente da Camara – Dr. Edelberto de Lellis Ferreira.
Registrada e publicada nesta Secretaria Municipal, aos dez dias do mez de Outubro de 1930.
O Chefe da Secretaria – Francisco Braga”.

EDIÇÃO DA VOZ DO PRATA DE 21 DE SETEMBRO DE 1930.
Poucos dias antes da reunião da Camara e da sanção da lei, acima mencionadas, a Voz do Prata havia publicado o seguinte, sobre a matéria:

“Uma das fontes de constante esgottamento de nossa economia interna é, sem duvida, o consumo de gasolina empregada diariamente no transporte de automóveis . Esse consumo cresce assustadoramente na razão directa do augmento das redes rodoviárias e no accrescimo de vehiculos para transporte de mercadorias e locomoção de passageiros. 
Em troca desse hydrocarbureto que alimenta os motores de explosão sahem diariamente para fora do Paiz milhares e milhares de contos em ouro que não voltam mais. Pode-se dizer que queimamos diariamente todos esses valores que não se reproduzem e nem são substituídos , levando a completo desequilíbrio a nossa balança commercial.
Economica e financeiramente iremos para o abysmo de uma fallencia certa, si não buscarmos outros meios de movimentar os nossos vehiculos , libertando-nos por completo da gasolina.
Felizmente parece que o problema está solucionado com o emprego do álcool industrial nos motores de explosão. Em Pernambuco e outros Estados do nordeste brasileiro já o álcool substituiu quasi por completo a gasolina. Nas ruas e praças de Recife e outras cidades do litoral as bombas de gasolina foram trocadas por bombas de álcool.
Com a isenção do imposto de fabricação, commercio e consumo de álcool industrial, o preço deste baixou extraordinariamente, deixando ainda grande lucro aos fabricantes. Pelos cálculos feitos, o álcool vendido a varejo a $400 reis o litro, sem os impostos, deixa mais lucro ao fabricante do que a aguardente a 1$000 sobrecarregada com o pesado imposto actual. 
Duas conseqüências benéficas resaltam do emprego do álcool em vez de gazolina – o barateamento dos transportes e s retenção no Paiz do dinheiro empregado na compra desse combustível.
Com a baixa do café que veio anchilosar e quase estinguir a nossa industria agrícola, os nossos agricultores tém de procurar um meio de dar vida à nossa lavoura e reconquistar a situação de prosperidade em que se achavam até há pouco.
Esse meio a razão está indicando – é a intensificação da cultura da canna e fabricação do álcool que vae em breve ter um consumo extraordinário.
Em nosso município cujas terras são próprias para a cultura dessa gramínea é preciso que os agricultores, grandes e pequenos, se dediquem desde já a esse ramo da agricultura que em breve substituirá com vantagens o café cuja baixa, segundo tudo está indicando, durará muitos annos ainda”.