NOSSA TERRA, NOSSA GENTE
Esta quem me contou foi um tio materno, que era “ouvidor” de histórias e causos.
Esta quem me contou foi um tio materno, que era “ouvidor” de histórias e causos.
Contou-me que o Zico de Inhá, era um Senhor acima de oitenta anos,
casado com Dona Josefina, mais conhecida como Dona Fina, e que moravam em nossa
zona rural.
Sô Zico andava muito desanimado, calado, taciturno, e quando alguém lhe
inquiria a respeito, dizia: “ to
pensativo, numa duda danada”.
Dona Fina, ao contrário do marido, falava muito, ria alto, não perdia a chance de uma prosa. Vendo o marido daquele jeito, resolveu levá-lo a consultar
em um Posto de Saúde da Cidade. Só podia tá doente, dizia. Sô Zico, bateu o pé,
não queria, dizia que não “carecia”.
Pois bem, acabou cedendo. Frente a frente com o médico travou com ele o
seguinte diálogo:
--- E ai Sô Zico, o que o Senhor está sentindo?
Ele demorou
um pouco a responder, e por fim:
-- Dotô, sentindo mesmo, não
sinto nada...
--- Mas esta melancolia, este
silêncio?
--Dotô tô só ensimesmado de
pensá, penso de dia, de noite, toda hora...
--- Mas sobre o que ?
-- To numa duda danada, só
tenho a muié, uma vaca veia, que nem leite mais dá, e uma galinha caipira.. to veio, na hora de morrê.
--- E daí? Pergunta o médico.
Sô Zico
responde firme:
--Da muié, quero separar; a
vaca quero vendê...
--- E a galinha? Pergunta o
doutor.
-- Quero fazer uma galinhada,
tomá uns quentão no próximo São João, dançá uma quadria bem arretada com uma
donzela bem bunita.
E meu tio com um sorriso um tanto
contido, como era de seu feitio, arrematou:
“ Só no Prata, meu filho, só no
Prata...”