Wednesday, May 21, 2014

CASOS, CAUSOS & ACASOS

NOSSA TERRA, NOSSA GENTE          

  Esta quem me contou foi  um tio materno, que era “ouvidor” de histórias e causos.


Contou-me que o Zico de Inhá, era um Senhor acima de oitenta anos, casado com Dona Josefina, mais conhecida como Dona Fina, e que moravam em nossa zona rural.

Sô Zico andava muito desanimado, calado, taciturno, e quando alguém lhe inquiria a respeito, dizia:  “ to pensativo, numa duda danada”.

Dona Fina, ao contrário do marido, falava muito, ria alto, não perdia a chance  de uma prosa. Vendo o marido daquele jeito, resolveu levá-lo a consultar em um Posto de Saúde da Cidade. Só podia tá doente, dizia. Sô Zico, bateu o pé, não queria, dizia que não “carecia”.

Pois bem, acabou cedendo. Frente a frente com o médico travou com ele o seguinte diálogo:

--- E ai Sô Zico, o que o Senhor está sentindo?

Ele demorou um pouco a responder, e por fim:

           -- Dotô, sentindo mesmo, não sinto nada...

           --- Mas esta melancolia, este silêncio?

           --Dotô tô só ensimesmado  de pensá, penso de dia, de noite, toda hora...

           --- Mas sobre o que ?

           -- To numa duda danada, só tenho a muié, uma vaca veia, que nem leite mais dá,  e uma galinha caipira.. to veio, na hora de morrê.

           --- E daí? Pergunta o médico.

Sô Zico responde firme:

           --Da muié, quero separar; a vaca quero vendê...

           --- E a galinha? Pergunta o doutor.

           -- Quero fazer uma galinhada, tomá uns quentão no próximo São João, dançá uma quadria bem arretada com uma donzela bem bunita.

                E meu tio com um sorriso um tanto contido, como era de seu feitio, arrematou:


                “ Só no Prata, meu filho, só no Prata...”