Friday, November 30, 2018

MEU TIO ALAMIRO GOMES

Meu tio Alamiro, irmão de minha mãe, um pouco mais velho do que ela, era um homem de costumes e hábitos diferentes. Conversava pouco, enérgico, um tanto inflexível no seu modo de viver, embora no fundo tivesse uma personalidade branda, não usava verniz para demonstrar uma delicadeza dissimulada; assumia sua verdadeira natureza.

Nascido em Gomes do Prata, durante alguns anos morou em "Vieiras". Era dado a leitura, com muita frequência, tanto que possuía conhecimento a respeito de vários assuntos, especialmente sobre as plantas verdes, arriscaria a dizer que se tivesse estudado seria um biólogo ou até um químico com certeza, pois conhecia sobre infusão de folhas, flores, raízes de planta; tanto que preparava muito bem remédios caseiros, inclusive xaropes para casos de gripe e resfriados.

Conheci-o quando veio ao nosso escritório cuidar de documentos relativos a uma propriedade que havia comprado na localidade denominada "Esperança", próxima à estrada para o Município de Dionísio.

Casou-se já mais idoso e não teve filhos. Gostava de andar em bons cavalos e tinha um zelo todo especial com eles.

Certa feita, precisando  ir a Dionísio, e havendo um documento dele no escritório para ser devolvido, ao passar frente a sua propriedade resolvi sair da estrada principal e ir até o sítio dele (que era bem próximo da rodovia). Lá chegando, cumprimentamo-nos, conversamos um pouco, como disse era uma pessoa bem informada pois lia muito. Lembro-me de ter visto sobre a mesa da sala livros da coleção "Readers Digest", que era uma espécie de revista que noticiava sobre "saúde, bem-estar, depoimentos da vida real, humor, inspiração e política".

Quando eu estava para sair, chegou um senhor que havia comprado um gado dele e vinha pagar. Quando o senhor começou a preencher um cheque, ele interrompeu-o dizendo :

__ "O que é isso?"

O comprador respondeu :

__ "É um cheque para pagar o gado."

E meu tio respondeu :

__"Não aceito dinheiro de papel, o senhor volte aqui com o dinheiro e aí nós acertamos."

Esse era o meu tio, que embora tivéssemos
convivido pouco, tinha por ele admiração devido as suas qualidades de franqueza  e sinceridade.