Monday, April 06, 2020

O TOMBO DO TITI

 Meu irmão mais velho, o Zé Albano era pra mim, simplesmente Titi, apelido que lhe dei ainda criança. Crescemos juntos. Diferentemente de mim, sempre acabrunhado, Titi era o que chamavam de "danado". Sempre aprontava em suas bagunças. Infelizmente dele, só muita saudade, pois, em Janeiro de 1979, prematuramente, aos 37 anos, ele nos deixou. Em 1945, já havíamos mudado de Barão de Cocais para Santa Bárbara. Num domingo qualquer, fomos passear em Barão, em nosso caminhão que foi estacionado defronte a casa de meus avós, um sobradão colonial, praticamente, na Praça da Igreja Matriz. Brincávamos na carroceria, não me lembro dos outros presentes, além da Vera, Titi e eu. Passava pela rua uma boiada e a meninada fez a festa, gritando e chegando até uma das laterais da carroceria. De repente o Titi despenca e vai ao chão, batendo com o rosto. Pânico geral para socorrê-lo, constatando-se um grande corte na face direita, porém não atingiu o crânio, graças a Deus, mas não o livrou de uma cicatriz enorme para sempre. Inexplicavelmente, a turma culpou a Vera pela imprudente brincadeira de empurrá-lo, ocasionando a queda. Ela então passou para a historia como a grande vilã do acidente, apesar de que sempre negou. Em 2018 fomos a Barão, ao enterro da Sinhá, nossa última tia. Presentes ao velório, assentados ao lado de uma senhora já idosa, com a qual conversávamos e nos identificamos. No decorrer da prosa, ela fez uma declaração que nos deixou atônitos: "-Eu sou irmã do menino que, há muito tempo, empurrou seu irmão de cima do caminhão". Depois, entre nós, Vera não se conteve e até aliviada falou comigo: Num falei... Ainda bem que a verdade apareceu, mesmo demorando 73 anos.
(OBS) - Na foto presente, Titi aparece em pleno carnaval pratiano, entre Marli e Vera de Danga. (Texto de Mauro Marques Morais )