Friday, July 02, 2021

Mensagem enviada por Drª Marielly Borim

Há pouco mais de um mês conheci um homem, um paciente sendo mais precisa. Um homem de caráter, um homem justo, um pai amoroso a sua maneira, um ótimo marido. Um pouco bravo, diga-se de passagem. Eu sei que para os irmãos, por circunstâncias e perdas ao longo da vida, ele se tornou uma referência. Sei que levava a família para a praia no passado, todos os anos. Sei que criou três filhos que se tornaram seres humanos de bem para este mundo caótico. Um homem forte e de forte opinião. Eu o conheci assim, e com ainda mais detalhes e histórias. Mas esse relato aqui carrega um fato curioso: eu nunca ouvi a voz dele. Poucas vezes ele me olhou nos olhos e, quando sim, foi num lapso, rapidamente. Eu o toquei e em raríssimos momentos tive retribuição. Mesmo assim, acreditem, eu o vi em pé, falando e olhando quando nem mesmo estava acordado. Esse é o poder do amor: é quando os nossos, sejam amores ou amigos, são capazes de trazer com palavras forma e fôlego mesmo depois que o nosso relógio já está errando os segundos. Contam sobre nós usando todas as tintas disponíveis da aquarela, misturam e ainda criam cores novas. E assim, não há outra saída: quando tocamos o outro tão profundamente a este ponto, meu amigo...morrer é impossível. Isso me lembra uma frase de um poeta inglês, por acaso médico pediatra, que diz: "quando a morte me encontrar quero estar bem vivo". Na época em que a descobri fiquei encantada, pensei até em tatua-la na pele. Hoje eu sei: eu não a entendia por completo. Agora sim, entendo. Obrigada. 

Um abraço, Mariélly.


Mensagem a Doutora Mariélly Borim:


Nós irmãos do paciente da autora, silencioso mentor de nossas vidas, agradecemos a elegância do gesto: Imaculada, João Bosco, Gorett, Edmar, Leonor e Petrônio.