Wednesday, July 07, 2021

PREFEITO BIO E O MESTRE LELÉ SE DESPEDEM E O POVO CHORA

Domingo, 17 de maio de 1998. Duas mortes de dois ícones da história política e cultural de João Monlevade. O primeiro, Germin Loureiro, popular "Bio", prefeito do município por três mandatos (1967/70; 1983/88 e 1993/96). Popular e carismático, tinha na esposa, também saudosa Dona Zarif Loureiro, sua grande companheira na vida familiar e política. O cortejo fúnebre do ex-prefeito arrastou multidões e fez chorar muita gente, pessoas simples que tinham no casal um alicerce para seus problemas. Bio era muito amado e, mesmo político, tinha o respeito de toda comunidade. Despediu-se e mostrou sua obra, hoje imortalizada. E, na mesma data, no município de Serra, em Jacaraípe, Espírito Santo, o músico Ângelo Castro, "Mestre Lelé". Este, um grande amigo, que fazia dos instrumentos sua grande arte. Regente dos corais da Igreja da Vila Tanque, seu bairro.


Por volta das 20 horas, estava eu deitado, em minha casa, sob o cobertor que me protegia do frio proveniente de um estado febril, quando o vizinho e amigo José Tavares, "Piteco", bate em minha casa, anunciando a morte de Lelé, seu cunhado. Não pensei duas vezes. Disse à esposa e aos meninos que não poderia deixar de me despedir de Seu Lelé, um grande ídolo que tinha. Partimos eu, "Piteco" e sua esposa, para nossa caminhada de mais de 400 Kms. Lembro-me de que, ao chegar em Realeza, tomei um conhaque e me senti melhor. Fui então pegar a direção. Chegamos em Jacaraípe por volta de 2 horas da madrugada. De lá, para o cemitério, onde o corpo do mestre era velado pela família e alguns amigos. Não tinha a multidão do velório do também querido Bio, mas estavam ali pessoas que amaram em vida o grande Lelé. Ficamos ali por um tempo e, depois, para reencontrar os velhos amigos da Vila e colocar conversa em dia, saímos para um bar que fica dentro do a cemitério. Eu, Piteco, os filhos Angelo (Gelu), José de Castro (Pantera) e Antônio (Bosch), o genro Emilson (Zuin) e da família, Sr. Marcos. Passamos ali a madrugada até o amanhecer, entre a prosa, uma cerveja e a cachaça. Fazíamos uma justa homenagem para quem sempre gostou de viver, que buscou intensamente a felicidade. E ele faria o mesmo por nós. Veio a despedida no início da tarde de segunda-feira e foi ele ficar ao lado do Criador. Os dois monlevadenses certamente se encontraram no céu. 


Na época, no jornal "Morro do Geo", fiz um texto em homenagem aos dois, que transcrevo abaixo:


"Foi num dia 17 de maio. Foi no ano de 1998. Foram contemporâneos. Viveram vidas diferentes e talvez até mesmo mundos diferentes. Mas, vindos de outras terras, migraram para João Monlevade e aqui se fizeram profissionais, casaram se. Ambos tinham algo em comum: eram muito família e também religiosos. Sem contar que eram pessoas especiais, cada um ao seu estilo. Um era carpinteiro e músico. O outro, comerciante e político. Ambos passarinheiros. Um havia nascido em Santana do Alfié, município de São Domingos do Prata, vindo a falecer em Jacaraipe, aos 80 anos. Mas viveu praticamente toda a vida em João Monlevade; o outro nasceu em Belo Horizonte e morreu aos 75 anos. Também dedicou sua vida a esta cidade.


Estamos falando de Ângelo Rocha Castro e de Germin Loureiro. Popularmente conhecidos como "Lelé" e "Bio". O primeiro foi um dos grandes músicos que passou por nossa cidade. Um polivalente nos instrumentos, onde tocava corda, sopro e teclado. Participou de vários grupos musicais de Monlevade desde a década de 30. Seresteiro e grande maestro, boêmio por excelência. E, por vários anos, foi o regente dos corais que se apresentavam nas missas de sábado e domingo na Igreja do Bairro Vila Tanque. Aliás, a Vila foi seu berço. Era o Mestre Lelé, sempre de bem com a vida e nunca estava sozinho. Sempre carregava nas mãos o seu violão ou um instrumento de Sopro. Saudade ao estar por ali na Rua 21, a do "Sapo", na Vila, e recordar do velho Lelé, com o semblante alegre, sempre sorrindo, descendo para a Igreja.


O segundo é o maior político que já passou por esta terra. Mesmo com seu jeito sisudo, era um homem de um enorme Sua vida era no velho Carneirinhos, onde com ingressar na politica e, de cara, presidiu a Comissão Emancipação de João Monlevade. Antes teve um bar, o Bar do Bio (hoje Bufalo Bill). Foi prefeito por três mandatos (1967/70; 83/88 e 93/96). Entre suas grandes obras, a Estação de Tratamento de Água, várias escolas e urbanização em dezenas de bairros. O Bio era o politico que não precisava correr do eleitor. Por si só, ele tinha o respeito do povo. Assim como Lelé, Bio era um homem integrado ao trabalho voluntário.


As esposas? Dona Eni e D. Zarif, grandes companheiras. Foram o baluarte para sucesso de seus maridos. Pessoas de  currículos invejáveis. Pessoas integras, amigas e solidárias. Pessoas raras".


FONTE: MELO, Marcelo Manuel de. A SAGA: Memórias de um jornalista do interior. 1ª Edição. 2014, Gráfica VIP - Itabira/MG. 267-272 p.


Observação:

Angêlo Castro (mestre Lelé da Vila Tanque), era filho da minha tia Maria José, portanto primo primeiro do meu pai Nô Barbeiro. Conheci-o na minha juventude, era um amante inveterado da boa música, razão de muito orgulho para a nossa família CASTRO.