Monday, April 15, 2024

AMIGOS DE JESUS

 Amigos...

Essa foi a expressão mais delicada e carinhosa de que Jesus se valeu para se referir àqueles que O acompanhavam de perto.
Todos os dias estavam juntos.
Ele sabia e conhecia a qualidade do material humano com quem podia contar, mas não dispensou ninguém.
Em Judas residia a inquietação íntima pelo dinheiro e a ânsia revolucionária.
Simão era amigo e leal, mas impulsivo e pavio curto.
Bartolomeu era uma jóia de confiança, mas mudava fácil de opinião se os ventos não lhe eram favoráveis.
João era sereno e gentil, mas excessivamente tímido e calado.
Tiago aceitava com entusiasmo as diretrizes da Boa Nova, mas não abria mão do culto irrestrito a Moisés.
Cada um possuía qualidades que o bom pastor procurou aproveitar ao máximo, e carregavam defeitos e impulsos menos felizes, que o olhar do Mestre identificou na convivência, tentando corrigir com amor.
Diante daquele punhado de homens, um mundo em ebulição.
Um sinédrio intolerante, conivente com os romanos e sedento de poder e posse.
Uma população espoliada, subjugada pelas armas e refém de uma ditadura religiosa.
Mulheres esmagadas pela tirania do macho alfa.
E milhares e milhares de enfermos do corpo e da alma, perambulando pelas vilas e cidades como mortos-vivos, que os coveiros esqueceram de ofertar sepultura digna.
E Ele entre eles como a luz do mundo, o pão da vida e a seiva farta da árvore da abundância.
Um mar de necessidades humanas.
Crise de valores.
Poucos gigantes e muitos pigmeus morais.
Israel sangrava no cutelo implacável do conquistador inclemente.
O povo suplicava por pão.
Quando muito, achava o circo.
Deveres em excesso.
Direitos, quase nenhum.
Escassas alegrias.
E a morfeia destruindo os tecidos orgânicos, a cegueira apagando pupilas para a policromia das cores, mãos mirradas e algumas ressequidas.
E "Ele", vara verde e viril entre galhos estéreis e secos.
Reuniu doze amigos e nunca se lamentou do colegiado precário.
Eram poucos e ignorantes.
Deles fez pescadores de homens e mulheres.
Onde esteve, com quem esteve, deixou algum traço de esperança e alegria.
Ergueu muitos do paul da miséria física ou reabilitou os sentimentos ultrajados.
Enalteceu a dracma perdida, valorizou como ninguém o fizera até então a minúscula semente de mostarda, prestigiou o óbolo da viuva.
Fez de Betânia e de três irmãos Seus parentes amados e por Lázaro derramou lágrimas de saudades, até arrancá-lo das garras da morte.
E pelas estradas poeirentas e ásperas da Judéia seguiu disseminando a fé e a confiança, o bom ânimo e o otimismo.
Seu calvário e Sua paixão O tiraram fisicamente de nós, mas nunca mais fomos os mesmos.
Nem o mundo.
Observa.
Vinte séculos depois, eis o admirável mundo novo!
Maravilhas da ciência e da tecnologia, e as mesmas necessidades humanas.
Arranha-céus de luxo e dentro deles almas vazias.
Automóveis reluzentes e sofisticados, guiados por criaturas em agonias não vistas.
Comunicações online, rapidez e agilidade na informação, e em toda parte a navalha afiada da angústia e da solidão, do medo e da ansiedade.
Excessos em muitos lugares, dramática escassez em outros.
E "Ele" esperando nossa decisão.
Amigo, se ouviste o apelo D'Ele em algum momento de tua vida, desce à vinha e labora por um pouco na caridade que redime, na bonança que socorre e no bom ânimo, que reabilita.
Acende alguma claridade nessa Jerusalém que estertora nas agonias e sombras dos tempos modernos.
Instado a falar, articula o verbo que dulcifica.
Constrangido a servir, abre teus braços em favor da massa de desorientados.
Lê alguma página consoladora para aqueles que do mundo somente colheram espinhos.
Medica alguém que ficou ferido na beira da estrada, esquecido pelos apressados.
Ele te pede tão pouco, e muito tem te ofertado até aqui.
Também carregas tuas dores.
Tens tuas mágoas.
Em teu país interior, paisagens sombrias e tempestades bravias que somente tu sabes a origem, mas "Ele" te conhece, e ainda assim, vem requisitar teu concurso na obra inacabada.
Lapidar o homem novo.
Renovar consciências.
Aprimorar o caráter.
Diluir o egoísmo na linfa da bondade sem fim.
Tirar a sede de ternura que ressecou muitos corações.
Apontar o reino a que "Ele" se referiu tas vezes.
Amigo, para onde vais?
Deixa que eu vá contigo?
Temos tanto por conversar!
E "Ele" saiu a semear...
Amélia Rodrigues e Marta
Salvador, 26.01.2023