RETORNO À MENINICE
Tinha a vida pela frente e uma vontade imensa de mudar o mundo - Vã inocência - Queria flertar, dançar no Clube Recreativo Pratiano, rir e andar sem rumo pelos arredores de minha Cidade, passear em Santa Rita. . . como havia moças bonitas lá - Andar despreocupado pela Terra que me pariu em seu útero cercado de montanhas.
Senti o vento no rosto ao correr pelos seus campos, cumprimentei velhas senhoras em tardes quentes.
Em quase todas as casas haviam quintais, manga, jabuticaba ou laranja; joguei futebol pelos inúmeros campinhos improvisados pela Cidade.
Pude observar meu pai bater a tesoura no pente ( hábito dos barbeiros da época ) e minha mãe passava café no coador de pano.
A música era uma forma de se ouvir e ouvir o outro, um acordo de equilíbrio entre as pessoas. Será que ainda o é ? Ou virou uma forma de incentivar a violência e os maus costumes, ofender indiscriminadamente e banalizar bons princípios ?
Nada era tão rápido quanto hoje, embora mais trabalhoso. As pessoas se cumprimentavam com carinho, conversavam. Hoje - celular, MP 3, iphone, ipad, itablet até Eike Batista tornaram as pessoas individualistas. Colocar o aparelho nos ouvidos é um recado: " não converse comigo ", e assim vamos vivendo um mundo de artificialidade e superficialidade.
Na verdade, ninguém quer ouvir o que o outro tem a dizer. Todos somos autônomos, se tivermos dúvidas vamos ao "Google" . Não precisamos de ninguém, quer seja professor de História, Ética ou Moral e Cívica. Será que o computador também nos transmitirá a gentileza, a delicadeza, a cortesia, os bons princípios ? Ensinar-nos -á a respeitar os pais e os mais velhos ? O amor ? A fé ?
Já não se canta mais " navegar é preciso " ; e sim, " correr é preciso ", " competir é preciso ".
Não é saudosismo puro e simplesmente, é uma situação em que a tecnologia está substituindo tudo. Será que substituirá o afeto, o carinho, uma boa companhia num suave fim de tarde ?
Haviam cadeiras nas calçadas. Elas sumiram.
O que foi que aconteceu ? . . .
Se continuar assim, vou-me embora pra Catende com vontade de chegar.