Não basta abrir as portas para o novo tempo. É preciso fechar algumas janelas também. E talvez fechar algumas janelas seja a parte mais difícil de seguir em frente.
Como deixar partir fragmentos do que fomos ao trancarmos nossas janelas?
Talvez a resposta esteja na vivência do luto. É preciso respeitar a dor
do fim de um tempo, mesmo que novas portas (muito melhores) estejam se abrindo
à nossa frente.
É preciso deixar partir a infância dos filhos, o fim de um
relacionamento que parecia perfeito, as amizades que não tinham vínculos muito
sólidos, as palavras de amor que não vingaram, a própria juventude, o corpo
perfeito, o tempo bom de faculdade, a saúde de nossos pais.
Diante da finitude, temos que aprender a seguir em frente sem olhar pra
trás com saudosismo ou sofrimento.
É preciso coragem para queimar cartas antigas que perderam espaço em
nossa memória afetiva, deixar abrigos conhecidos onde não nos refugiamos mais,
dar chances às novas possibilidades de felicidade.
Nem tudo resiste ao tempo. Agarrar-se ao que não existe mais não permite
que novas chances se revelem.
É preciso aprender a partir. A abandonar nossos lugares no mundo e de
dentro das pessoas.
Descobrir que, tão importante quanto seguir em frente, é saber deixar
pra trás.
Nem sempre é fácil reconhecer que um tempo chegou ao fim. Insistimos em
reviver antigos papéis, trazer à tona emoções que se esgotaram, resgatar
pessoas que já partiram há muito tempo de nós.
Cada um encerra seus ciclos de forma diferente, e é preciso respeitar o
tempo de cada um. O presente te escolheu. Tenha a sabedoria de escolhê-lo
também.
Texto: Fabíola Simões