Friday, June 21, 2024

4 CURSOS D’ÁGUA HISTÓRICOS PARA JOÃO MONLEVADE
Os rios desempenharam papel fundamental no processo civilizatório da humanidade. Foi nas margens dos rios que as civilizações surgiram e se desenvolveram, como no Rio Nilo, no Egito, no Rio Jordão, na Palestina, e nos rios Tigre e Eufrates na Mesopotâmia, cujo significado do nome é “entre rios”. A propósito, se tem um município que pode ser considerado a Mesopotâmia Mineira é o de João Monlevade, porque seu território se encontra localizado, justamente, entre o Rio Santa Bárbara, que nasce na Serra do Caraça e o Rio Piracicaba que nasce na Serra do Ouro Preto. Em quase duzentos anos de metalurgia, pelo menos 4 são os cursos d´água de relevância histórica para o Município.
O primeiro deles é o Rio Piracicaba. Foi através de navegação pelos Rios Doce e Piracicaba que os equipamentos de forja para a Fábrica de Ferro Monlevade (1828) foram transportados do litoral para o interior de Minas. É também na calha do Rio Piracicaba que ocorre a Mata Atlântica, com a qual, por meio de manejo sustentável, se fabricou o carvão que alimentou o primeiro século de história metalúrgica do Município. Foi também a água do Rio Piracicaba que abasteceu as fornalhas das máquinas a vapor e movimentou outros maquinismos na Fábrica de Ferro da Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros do Jacuí (1891). Naquele mesmo local, no Jacuí, na margem esquerda do Rio Piracicaba, a Belgo-Mineira (1935) instalou a hidrelétrica homônima responsável por gerar a primeira energia elétrica do Município, muito antes da Cemig. Ela funciona ainda hoje. A Vila Operária de Louis Ensch também é abastecida com água tratada do Rio Piracicaba, assim como a siderurgia contemporânea local.
O segundo é o Ribeirão Carneirinhos. Monlevade desviou o curso do Ribeirão Carneirinhos para dentro de sua Fábrica de Ferro (1828), onde as águas moviam duas rodas d’água de três marteletes hidráulicos de forja, uma máquina de tornear ferro e um engenho de serrar madeira. Eram os marteles hidráulicos que forjavam as peças de até 1.000 quilos de peso.
O terceiro é o Ribeirão do Tanque. Ele nasce no alto de onde hoje é o Bairro Vila Tanque, nos arredores do Campo de Aviação. Na altura de onde é a Rua Imbé, Monlevade desviou o curso do Ribeirão do Tanque para o paredão de pedra que existe nos fundos do Solar, dali as águas despencavam uma altura de 50 metros, formando uma cascata artificial. A seguir a água era distribuída para todos os serviços da casa, como abastecimento, banho, irrigação de horta e pomar. Ainda no pátio do Solar, esta água movimentava um engenho de pilão utilizado para sacar ferro de borras de lupas. Mais adiante, esta água, que era muito limpa, também era utilizada para impulsionar os sopros dos seis fornos catalães e dos fornos de reverbero. Toda a Fábrica de Ferro Monlevade era movida por força hidráulica.
O quarto é o Ribeirão Jacuí. Antes de a Belgo-Mineira (1935) instalar sua estação de tratamento de água e a rede correspondente, ruas da Vila Operária no entorno da Usina eram abastecidas pelas águas do Ribeirão Jacuí, que era limpo na época. Um rego tirado com muita altura e caimento perfeito trazia água do Ribeirão Jacuí para o entorno da Usina até um filtro, de onde ela era distribuída para a população local.