Monday, August 11, 2025

DONA ELZA

 Dona Elza, 82 anos, caminhava todos os dias até a pracinha da cidade com um banquinho de madeira e um envelope amarelado nas mãos. Sentava-se sempre ao lado de um velho poste de luz e ficava ali por horas, olhando o movimento das ruas e conversando com as pessoas que passavam.

Alguns achavam que ela apenas gostava de tomar ar fresco. Outros diziam que ela esperava por alguém. Mas ninguém nunca soube ao certo.
Crianças brincavam por ali e perguntavam:
— "Vó Elza, por que a senhora sempre senta nesse mesmo lugar?"
Ela sorria, colocava a mão no envelope e respondia:
— "Porque foi aqui que ele prometeu voltar."
A história era antiga. Nos anos 60, Elza se apaixonou por Miguel, um jovem alfaiate que sonhava em mudar de vida e viajar o país. Antes de partir, ele prometeu:
— "Quando eu voltar, vou te entregar esta aliança. Espere por mim neste mesmo poste."
Miguel partiu, mas nunca mais deu notícias. Diziam que ele havia morrido num acidente de ônibus. Mas o corpo nunca foi encontrado. E Elza, com o coração cheio de amor e fé, guardou a carta que ele deixou e passou os últimos 60 anos voltando ao mesmo lugar, todos os dias.
Um dia, já ao entardecer, um carro preto parou em frente à praça. Um senhor de chapéu desceu devagar, com uma bengala em uma das mãos e um pequeno estojo na outra.
Olhou em volta… e a viu.
— “Elza?” — disse, com a voz embargada.
Ela demorou alguns segundos para entender. Depois, os olhos se encheram de lágrimas. Era Miguel. Ele sobreviveu ao acidente, mas ficou internado por anos sem memória. Recuperou parte dela recentemente, e com ajuda da filha de um enfermeiro que viu a velha carta no bolso do paletó, reencontrou o nome da cidade.
Dona Elza se levantou com dificuldade. Miguel ajoelhou com esforço diante dela e abriu o estojo. A aliança estava ali.
— “Demorei, eu sei. Mas eu voltei.”
Naquele dia, a praça inteira parou. A cidade chorou com eles. E o poste, que para muitos era só um pedaço de concreto, se tornou símbolo de fidelidade, esperança e amor que nem o tempo, nem o esquecimento conseguiram apagar.