Monday, November 05, 2012

CASOS & CAUSOS

Essa Minha Tia

    Há alguns anos, incipiente ainda a técnica da implantação de órgãos  humanos,  fui fazer uma visita a uma Tia avó em Santa Bárbara, a Tia Nita.

    Mulher alegre, generosa, fervorosa, devota de Santo Antônio, gostava de contar casos antigos, coisas que aconteceram nas últimas viagens de trem que fizera para Belo Horizonte. Era daquelas que encarava a vida de peito aberto, sua fé religiosa era tão forte que a nada temia.

    Conversa vai conversa vem, surge o assunto das cirurgias que estavam sendo feitas, já na África do Sul e em São Paulo. Ela interessou-se pelo assunto. Era mulher que lia, ouvia rádio e tinha uma percepção futura que me deixou estarrecido. Que tia bacana, pensei comigo!...

    Um dos primos,  formado em farmácia e que morava em Sabará, começou a explicar para ela que se um órgão humano estivesse em bom estado, poderia ser transplantado para o corpo de outra pessoa, se fosse compatível e sem que houvesse muita demora entre o óbito e a cirurgia.

    Ela então silenciou por um momento, pareceu-me pensativa, até meio sorumbática; mas de repente saiu-se com esta: 

 "Que pena, em mim tá tudo véio mesmo não vou poder ajudar a ninguém, a única coisa nova que eu tenho pra doar é a dentadura que o Dotô Turíbio pôs ni mim semana retrasada...

 Oh dó!..."