MEDO DE MULHER NOVA
Antigamente Dionísio e Marliéria eram Distritos do Prata.
Pois bem, próximo a Marliéria havia uma região conhecida como "Onça Grande", um imenso vale, com uma planície esplendorosa, salpicada de lagoas, qual manto verde com nódulos azuis-celestes.
Morava lá o Sô Quirino, viúvo, 90 anos de idade, acompanhado da Peta, uma filha solteira. Ele era um homem alegre, gostava de um forró, de sanfona e moça bonita, vestida de chita ( tecido de algodão com estampas fortes e coloridas ).
Com o tempo, ele começou a ficar mais quieto, quase não saía, sentava-se em um toco na frente da casa e com um canivete ia descascando pequenos pedaços de madeira, vez ou outra assoviava uma música antiga, mas sempre meio macambúzio.
A filha Peta, preocupada comentou com os irmãos casados que moravam por perto. Eles combinaram e resolveram levar o pai a um médico. Sô Quirino relutou, mas deu-se por vencido.
No consultório o "dotô" lhe perguntou o que estava sentindo.
Ele respondeu: "Dotô" sentir mesmo, não sinto nada, mas os "meninos" cismaram que tô doente, então eu vim."
Então o médico disse :
__ " Mas eles falam que o Senhor não sai mais de casa e anda com medo de tudo."
O Sô Quirino então explicou :
__ "Oh dotô, perdi um amigo com pneumonia, então tô com medo de vento nas costas... Não aguento mais comer torresmo que me dá um 'atrapalho' nos intestinos.
O médico: "Mas dizem que o Senhor depois de viúvo, dançava muito, namorava e era festeiro, e por que isso agora?"
Sô Quirino : "Ah dotô, tem umas coisas que não faço mais, não fico na frente de boi bravo, nem atrás de burro coiceiro e muito menos perto de muié , pois dizem que muié nova pela frente mata véio facinho, facim... Então fico quieto.