Lulismo Infantil
Por volta de 1958, menino ainda, doido pra ganhar uns trocados para comprar balas e picolés no Bar Semião, além de poder ir ao Cinema do César Mendes aos domingos para assistir "Tarzan, o Rei das Selvas", ou aos faroestes do Durango Kid, ficava na barbearia do meu pai com a minha caixa de engraxate.
Um final de tarde a UDN do Prata confabulava ao fundo da barbearia. Conversavam Zinho Drumond, Nonô Juca Martins, meu pai e Nonô Lelé. Era ano de eleições municipais. E eu estava sentado no degrau da porta, quando eles deram por fé que eu poderia ter ouvido a conversa deles sobre a política daquele ano, então pararam de falar. O vereador Nonô Lelé falou assim:
_"Oh gente nós estamos conversando aqui, mas tem menino aí e pode tá ouvindo!..."
Referia-se a mim, certamente um pouco preocupado, porque eu poderia ter ouvido algo e concluiu:
_"Este menino não é bobo não, pode falar qualquer coisa depois !..."
E eu ouvindo aquilo, passei a mão na minha caixa de engraxate e temeroso falei:
*"Pai, eu não ouvi nada, não sei de nada e nem tava aqui!..."
E subi a escada para casa com mil no ponteiro.