Friday, June 14, 2013

O PINICO


Sala ampla, de sólida construção.
Decoração simples. Num canto, o oratório guardando a Sagrada Família.No outro canto, falando baixinho, o casal namora.
Na copa, a mãe tece. Tricot ou crochet, não importa. São especialidades suas. Simplesmente tece e espera.
No quarto, o pai fuma. E pensa. E filosofa. E sonha. Imagina num futuro melhor para todos.Às vezes, tosse.
O grande relógio do Rosário bate, pausadamente, a melodia das quinze para a dez."todas ferem, mas a última mata", sussurra o Romeu.
-Beto...pinico.
Julieta leva Romeu até o alpendre. Mais quinze minutos gastam na despedida. Ele desce a rampa, atravessa o jardim e segue para o Hotel.
Ela espera que ele chegue na esquina, um último adeus e entra furiosa direto no quarto dos pais.
-Ô, papai. Você não tem jeito, heim ? Quase me mata de vergonha. O que o Romeu não deve pensar de você pedindo pinico. Você me envergonha.Jura, que não faz isto mais.
-Juro. É só você não se esquecer da hora.Despacha o moço antes das dez.
E Julieta vai dormir satisfeita com a promessa, mesmo sabendo que não será cumprida.De ambas as partes.