UM ANTIGO FINAL DE SEMANA
Nos idos de 50 e 60, os sábados e os domingos representavam os dias em que a população rural vinha à Cidade.
Uns para fazer compras, os homens para cortar cabelo e fazer a barba. Era dia em que os armazéns de "Secos e Molhados" tinham seu maior movimento. Charretes, carroças, belos animais desfilavam pela cidade. Até nós, pequenos engraxates conseguíamos faturar algum dinheiro; muitos sapatos e botinas para o "lustro carioca, suja mas não reboca".
Os finais de semana eram movimentados. Zé do Bar abria a nossa rodoviária (Bar Semião) bem cedo.
Djalma passava o dia conferindo a programação religiosa pois o Pe. Antônio depois da missa dominical(de manhã) saía para as capelas do Município para celebrar.
Jarbas Barbeiro deixava preparada as suas chuteiras para o jogo de domingo no Lava-Pés. Cascalho, Pupú Cepo e Tabelado aumentavam a produção de pães na Padaria de Sô Nonô. Sô Pelágio marcava ensaio da Banda Santa Cecília. Paulo Braga, Zé de Castro e Zezito Mendes confabulavam a respeito do final de semana. Evandro Braga preparava o Galo Pratiano para o jogo de domingo com o Minas de Nova Era.
Sô Tonico Totone, com Da. Capucha, vinha cuidar de assuntos pessoais e comerciais na Cidade. Zé Recreio, sempre inquieto, cuidava de arrematar as obrigações da semana que terminava. Sô Inhô Gomes como sempre cumprimentando a todos, inclusive a nós, meninos, com um afetuoso abraço.
Eis que chega Sô Manoel Fráguas na barbearia de meu pai, e eu faturo meus trocados engraxando os sapatos dele, sempre de cor marron. Zequinha Brigadeiro chega escalando o Flamengo que vai jogar no Maracanã contra o Fluminense: Garcia, Tomires e Pavão, Jadir, Dequinha e Jordan; Joel, Moacir, Henrique, Dida e Babá; refutei com o Fluminense : Castilho, Cacá e Pinheiro, Vítor, Clóvis e Bassul; Telê, Didi, Valdo, Robson e Escurinho.
Esmeraldo já chegou da Jazida da Continental (Lucas) e já desfila vestido todo de branco, parece-me que era um hábito dele. Bené Sô Tino passa acelerando seu jeep e mexendo com Jair Barbeiro: "oh, Pinguela!". Da. Nenêm do Sô Rômulo atravessa a rua com uma bandeja de empadinhas, "hummm que cheiro delicioso".
O rádio westinghouse da barbearia anuncia que o Bangu enfrentará o Olaria na Rua Bariri pelo Campeonato Carioca.
Meu pai encarrega-me de levar um remédio para minha avó Leonor lá na Rua das Taquaras. Desço pelo Lava-Pés, Sô Marinho Perdigão está cuidando de um pedaço de carne muciça para o Sr. Archanjo Duarte, Joaquim Fogueteiro e Sô Eurico conversam no passeio, Zé Nicolau está chegando em casa. Quando subo o pequeno morro que antecede o das Palmeiras, vejo meu tio Luis subindo vagarosamente, passos lentos por causa do derrame que sofrera, de repente escuto alguém gritando : " Ôh brigadeirinho você com camisa do Fluminense e seu pai é vascaino " ? . . . Fiquei surpreso, mas meu pai era mesmo um democrata, era Da Yayá de Sô Quinquim Braga ( mãe de Adailton, Jairo e Nenem ) que me fazia a observação, era ela vascaína doente e brincava muito comigo.
Mais tarde quando voltei, pude constatar que meu mano João Bosco já estava levando o Reinaldo para os campinhos de peladas que existiam por todos cantos da cidade. O suor e as calças curtas com poeira avermelhada denunciavam que haviam jogando no corte da estrada de ferro.
Por fim, chega ao ocaso mais um dia, em que a gente era feliz e não sabia.