Thursday, August 30, 2012

CASOS & CAUSOS

O CASO DAS DENTADURAS

Na década de 40 o Prata era um Município grande, inclusive Dionísio, Goiabal, Marlieria e Jaguaraçu ainda pertenciam ao Prata (eram distritos). Então era comum que as pessoas destes Distritos viessem à Sede do Município, à  Prefeitura, aos Cartórios, Fórum e lojas.
Meu pai, filho de barbeiro, já havia aprendido o ofício e tinha seu pequeno salão.
O Sô Bené da Baixada tinha um sítio na região, parece-me que no Goiabal. Veio ele à  Sede do Município para resolver  negócios e afazeres pessoais. Ele era um homem baixo, sempre de chapéu, bigode aparado, voz agradável  de timbre forte. Na sua vinda ao Prata, resolve ele adentrar à barbearia do meu pai,  a quem  já conhecia.
- Olá Sô Nô!
* Oh Bené, tudo bem?
- É Sô Nô,  tô querendo dá uma aparada na crina e raspar a barbicha.
Meu pai acomodou-o na cadeira, e inicia os preparativos, percebendo que ele estava meio desassossegado , pergunta:
* Sô Bené,  tá acontecendo alguma coisa?
- É Sô Nô,  tô com a boca meio ferida, incomodando um pouco ...
* Uai! O que aconteceu ? pergunta meu pai.
- " O Sô sabe,  a gente fica véio,  perde os dentes, fica difícil para comé um pedaço de rapadura, um torresmo, minduim nem se fala. Falaram pra minha muié que lá no  Monlevade tinha um moço que ponhava  uns dentes na gente, uma tal de dentadura. A muié zangou de ir procurar esse dotô da boca. Custou prá achá, mas achou, um tal dotô Olandi. Ele mexeu, virô, fez uns exames, mediu e marcou  prá coloca a tal bichona na boca dela. A muié veio prá casa toda alegre,  pensando nos dentes novos. Dias depois ela voltô no Monlevade e já revoltô  prá casa com a bichona na boca, toda felizarda...  Mas aí a muié pôs na cachola que eu também devia por os tais dentes emprestado.  O Sô sabe, muié  quando insenga que é dona da gente sai fora. Fui eu pro Monlevade atrás do tal dotô. Ele fez o mesmo que fez com minha muié; a diferença Sô Nô é que ele pôs nela, e não doeu; pôs ni mim e doeu prá daná!...
E por isso que tô aqui incomodado, com a boca ferida.
Não é um ministério um troço desse?"
* É Sô Bené, paciência, com o tempo o Senhor acostuma.
O Bené levantou-se, pagou  pelo serviço e diz ao meu pai:
" Pois é Sô Nô, foi um feliz prazer ver o Senhor, quando for lá pros lados da  Goiaba toma um café comigo na minha humilde casebre choupana.