Friday, December 05, 2014

TEMPERAMENTO E CARÁTER



A vida de todo homem normal é regida por um duplo psiquismo: o psiquismo inferior ou temperamental e o psiquismo superior ou caracterológico.

Ao primeiro está ligado o temperamento, cujas bases repousam no lastro sensitivo-afetivo do indivíduo. Ao segundo está ligado o caráter que se estrutura nas forças intelecto-volitivas.

O temperamento é inato, visto que depende de nossa natureza fisiológica, e está regido pelo determinismo biológico dinâmico-humoral, ao passo que o caráter, se bem que se estribe no temperamento, pois nada vem ao intelecto sem ter antes passado pelos sentidos, se elabora na liberdade da vontade.

As glândulas de secreção internas têm papel importantíssimo no estudo do temperamento, pois, se “o vinho alegra o coração do homem”, nada mais lógico que um pouco de adrenalina possa influenciar no estado afetivo do indivíduo.

Assim se  encontrou álcool no sangue do beberrão, a saliva do colérico acusou a presença de ptomaínas.

Do outro lado, “o que faz o caráter propriamente dito é, antes de tudo, a energia da vontade”.

É de Santo Agostinho esta frase de expressivo valor psicológico: “Homines sunt voluntates”. Sim, o homem é a vontade. Não quer dizer, aqui o mestre, da exclusividade da vontade. Nesse caso, queremos ver a vontade palmilhando o caminho que iluminou a inteligência quando estabeleceu a rota de sua companheira.

Resumindo, convém diferenciar o temperamento do caráter, muito embora sejam elementos que se completam.

Uma das facetas importantes do temperamento é a sua intransferibilidade. Ao longo de toda a  vida, salvo em casos de doença, o temperamento permanece inalterável.

Os maiores costumavam dizer, com muita sabedoria, que, se expulsássemos a natureza, esta voltaria a galope. O colérico morrerá colérico e melancólico será preso na tristeza a vida inteira.

Como o corcel fogoso, ele tem necessidade constante de rédeas que lhe controlem o ímpeto. E como o manso foi doméstico, do aguilhão que lhe acelere o passo.

Determinado pelos elementos somáticos, o temperamento carece de moralidade. Não há maus nem bons temperamentos. O covarde como o colérico só são dignos de vitupério por não terem sabido, por meio de uma vontade esclarecida, aproveitar-se da mansidão ou da cólera.

O temperamento, sendo um modo de sentir, é tão próprio do homem como é para o animal, enquanto o caráter é o pedestal onde se eleva a personalidade humana.

Agir temperamentalmente é ter lugar comum com o irracional – todavia, agir com caráter é agir como verdadeiro homem.