Thursday, November 27, 2014

PROCURA-SE UM AMIGO



Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimento, basta ter coração. Precisa saber falar e saber calar; sobretudo saber ouvir.

Tem que gostar de poesia, da madrugada, de pássaros, do sol, da lua, do canto dos ventos e do murmúrio das brisas.

Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então de sentir falta de não ter esse amor.

Deve respeitar o próximo e respeitar a dor que todos os passantes levam.

Deve guardar segredo sem se sacrificar.

Não é preciso que seja de primeira mão, nem mesmo é imprescindível que seja de segunda mão; pode já ter sido enganado (todos os amigos são enganados).

Não é preciso que seja puro, nem que seja de todo impuro, mas, não deve ser vulgar.

Deve ter um ideal e medo de perdê-lo; no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa.

Tem que ter ressonâncias humanas; seu principal objetivo deve ser amigo, deve sentir pena de pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários.

Deve ser D. Quixote sem, contudo, desprezar Sancho Pança.
Deve gostar de crianças, lastimar as que não puderam nascer e as que não puderam viver.

Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos; que se comova quando chamado de amigo; que saiba conversar sobre coisas simples, orvalho, de grandes chuvas e de recordações da infância.

Precisa-se de um amigo para não enlouquecer, para se contar o que se viu de belo ou de triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade.

Deve gostar de ruas desertas, de poças de chuva, de caminhos molhados, de beira de estrada, do mato depois da chuva e de se deitar no capim.

Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já tem um amigo.

Precisa-se de um amigo para se parar de chorar, para não se viver debruçado no passado em busca de memórias queridas.

Precisa-se de um amigo que nos bata no ombro, sorrindo e chorando, mas que nos chame de amigo.

Precisa de um amigo que creia em nós.

Precisa de um amigo para se ter consciência de que ainda se vive.