(...) O silêncio não é a negação da palavra, como a palavra não é
tampouco a negação do silêncio. Há silêncios eloqüentes, como
palavras vãs. É, precisamente, a continuidade entre um estado e
outro que forma a trama completa de nossa vida do espírito. É na riqueza do
nosso silêncio interior que se forma a qualidade de nossas manifestações
verbais. Como é na riqueza de sua repercussão no silêncio
posterior, que reside o sentido mais profundo do nosso privilégio
verbal. O homem é a única criatura que fala. Mas é também a única que sabe
dar ao silêncio o seu sentido profundo.
O silêncio dos seres humanos, das pedras, das florestas, dos animais, só tem
sentido, para nós, seres verbais, que damos um significado positivo, poético,
filosófico, religioso, a esse silêncio das coisas e dos seres infra-humanos.
Como o rumor de nossas palavras só tem sentido porque nelas se reflete
o mundo infinito que está para lá de sua sonoridade, o mundo dos sentimentos,
das idéias e das grandes realidades invisíveis.