Thursday, October 23, 2014

O SILÊNCIO



(...) O silêncio não é a negação da palavra, como a palavra não é tampouco a negação do silêncio. Há silêncios eloqüentes, como palavras vãs. É, precisamente, a continuidade entre um estado e outro que forma a trama completa de nossa vida do espírito. É na riqueza do nosso silêncio interior que se forma a qualidade de nossas manifestações verbais. Como é na riqueza de sua repercussão no silêncio posterior, que reside o sentido mais profundo do nosso privilégio verbal. O homem é a única criatura que fala. Mas é também a única que sabe dar  ao silêncio o seu sentido profundo. O silêncio dos seres humanos, das pedras, das florestas, dos animais, só tem sentido, para nós, seres verbais, que damos um significado positivo, poético, filosófico, religioso, a esse silêncio das coisas e dos seres infra-humanos. Como o rumor de nossas palavras só tem sentido porque nelas se reflete o mundo infinito que está para lá de sua sonoridade, o mundo dos sentimentos, das idéias e das grandes realidades invisíveis.

“Há silêncios eloqüentes, como palavras vãs”.