A vida é o que é. As pessoas são o que são.
Há sempre uma luta
renhida entre a fantasia e a realidade. O homem, que é dotado de capacidade
para pensar e imaginar, idealiza a vida conforme seus desejos íntimos. Um dos
campos da mente humana que mais se fantasia é a vida afetiva, o casamento e
alguns outros.
Quando criança sempre ouvimos falar
que o casamento é o repositório natural de toda felicidade; que oferece a
plenitude eterna do amor. Por isto basta ter sorte e encontrar a pessoa ideal.
Seria a solução de todos os problemas.
Algum tempo depois do casamento, se
isto não ocorre, vem a frustração.
Fantasiar é devanear a
respeito do que é e como deveria ser. É esperar que o sonho aconteça.
Imaginar é construir,
trabalhar, pelejar de acordo com a realidade.
A postura de achar que as coisas
ocorrem milagrosamente é uma postura um pouco adolescente.
Quanto ao casamento, de fato temos
que considerar que as pessoas são imperfeitas, limitadas e reais. Não existe um
casamento ideal. Existe uma relação que deverá ser objeto de melhoria contínua,
em todos os aspectos. Mudar de parceiro não vai resolver o problema, pois a
questão não é o outro, mas a própria concepção idealizada do amor
e da relação conjugal. Conviver com os pontos fracos do outro e com as próprias
dificuldades é o grande desafio de crescimento de toda relação. Ao confrontar o
próprio mundo, com o mundo do parceiro, iremos nos deparar com as nossas
características negativas e as da outra pessoa. A teoria do casamento na
prática é outra. Aprender a dialogar, a tolerar as limitações e as diferenças,
a conviver com os desejos, às vezes antagônicos, aumentar a capacidade de
negociar e, sobretudo, crescer emocionalmente, faz parte dos casais bem
sucedidos. Culpar o outro pela própria frustração é o caminho mais curto para
inviabilizar a relação afetiva. O casamento não tem e nunca teve ou terá o dom
de satisfazer todas as necessidades das pessoas envolvidas. O casamento pode
satisfazer parte de nossas necessidades. Outras necessidades serão resolvidas
com o crescimento individual, que facilitará um maior investimento na relação.
Temos muito o que aprender a
respeito do amor, das relações, especialmente as íntimas. A grande arte da vida
a dois é a operacionalização do amor. É o desejo feminino de aprender a amar,
amando; de caminhar, caminhando; de casar, casando, diariamente, numa melhoria
sem fim. As ameaças contínuas que o casal se faz, quando depara com o limite do
outro, mostram o desejo de encontrar pronto o que está por se fazer. Sonhar com
um casamento feliz é bom, desde que os sonhos se transformem em imaginação
(imagem em ação) fecunda, partilhada humildemente pelos que querem crescer e
melhorar.