Friday, May 22, 2015

DISTÚRBIOS DE FALA: COMO AMENIZÁ-LOS?



Maria Cristina Jabbur

Revista Brasil Rotário



Uma das preocupações mais freqüentes dos pais com os filhos ainda pequenos está relacionada com o desenvolvimento da linguagem “dentro da época certa”.

“Meu filho não está demorando a falar? “pergunta a mãe. “Minha filha já não deveria estar falando tudo?” Indaga a outra. “Ela já está com três anos e ainda não pronuncia o “R” exclama a maioria delas. Pois bem. Todas essas preocupações são naturais e compreensíveis. Fala e linguagem são aspectos importantes no desenvolvimento geral da criança e refletem a sua competência neurológica, emocional e orgânica, além de reproduzirem os fatores ambientais e de estimulação que atuam, direta ou indiretamente, nesta evolução.

Como fazer, então, para oferecer à criança as melhores condições para o seu desenvolvimento lingüístico? Nestes vários anos de atuação clínica, tenho recebido casos de distúrbio de fala e desenvolvimento orofacial que poderiam ser evitados, de maneira simples, prática e barata, apenas com bons procedimentos de rotina ou mudanças de hábitos inadequados no dia-a-dia da criança.

Para que haja um bom desenvolvimento da fala é importante que a alimentação seja normal desde o nascimento, pois os mesmos órgãos são utilizados para essas duas funções.

As atividades motoras da fala serão menores, quanto mais adequados forem os hábitos alimentares da criança.

O aleitamento materno é a alimentação ideal, pois além de proporcionar imunidade natural contra várias enfermidades e assegurar um bom desenvolvimento emocional do recém-nascido, estabelece o controle de movimentos reflexos numa reação em cadeia-sucção, deglutição e respiração. Tais funções, além de vitais, são, também, pré-linguísticas. A amamentação no seio materno - pela sua configuração anatômica - tem grande importância para que os órgãos fonoarticulatórios se desenvolvam de forma correta e harmoniosa.

Quando o aleitamento materno não é possível, é comum encontrarmos o uso da mamadeira com furos exagerados em seu bico, o que desfavorece a sucção para o bebê, e pode levar a um padrão incorreto de deglutição - o bebê, para não engasgar, utiliza a língua, com freqüência, como mecanismo de defesa. Como conseqüência, haverá uma disfunção na musculatura orofacial que levará a uma alteração de crescimento e desenvolvimento dessa região.

Incluir alimentos sólidos na alimentação da criança com mais de seis meses é de extrema importância. Dieta com alimentos de pouca consistência (amassados ou liquidificados) propicia hipotonia dos músculos. Deve ser dada preferência às frutas, legumes crus ou levemente cozidos.

Como a preservação dos dentes e sua boa oclusão são essenciais para uma boa articulação, pois tem efeito direto nos sons da fala, lembramos que hábitos viciosos, como o uso da chupeta e a sucção do dedo, podem levar ao desequilíbrio dos órgãos fonoarticulatórios, provocando distúrbios fonoaudiológicos, alterações das arcadas dentárias e do crescimento e desenvolvimento da face; a retirada desses hábitos deve ser feita, portanto, até dois anos de idade, preferencialmente.
Evidentemente, diversos distúrbios de comunicação oral não poderão ser evitados apenas com as boas condutas e mudanças de hábitos aqui mencionados; certamente, também, nem todas as crianças serão prejudicadas com a permanência desses costumes, pois podem ser protegidas, por exemplo, pela característica de seu tipo facial. Temos certeza, no entanto, que muitos problemas poderão ser impedidos ou amenizados, a partir de uma postura consciente e esclarecida por parte da família que tem, afinal, o papel mais importante no desenvolvimento de suas crianças.