Maria
Cristina Jabbur
Revista
Brasil Rotário
Uma
das preocupações mais freqüentes dos pais com os filhos ainda pequenos está
relacionada com o desenvolvimento da linguagem “dentro da época certa”.
“Meu
filho não está demorando a falar? “pergunta a mãe. “Minha filha já não deveria
estar falando tudo?” Indaga a outra. “Ela já está com três anos e ainda não
pronuncia o “R” exclama a maioria delas. Pois bem. Todas essas preocupações são
naturais e compreensíveis. Fala e linguagem são aspectos importantes no
desenvolvimento geral da criança e refletem a sua competência neurológica,
emocional e orgânica, além de reproduzirem os fatores ambientais e de
estimulação que atuam, direta ou indiretamente, nesta evolução.
Como
fazer, então, para oferecer à criança as melhores condições para o seu
desenvolvimento lingüístico? Nestes vários anos de atuação clínica, tenho
recebido casos de distúrbio de fala e desenvolvimento orofacial que poderiam
ser evitados, de maneira simples, prática e barata, apenas com bons
procedimentos de rotina ou mudanças de hábitos inadequados no dia-a-dia da
criança.
Para
que haja um bom desenvolvimento da fala é importante que a alimentação seja
normal desde o nascimento, pois os mesmos órgãos são utilizados para essas duas
funções.
As
atividades motoras da fala serão menores, quanto mais adequados forem os
hábitos alimentares da criança.
O
aleitamento materno é a alimentação ideal, pois além de proporcionar imunidade
natural contra várias enfermidades e assegurar um bom desenvolvimento emocional
do recém-nascido, estabelece o controle de movimentos reflexos numa reação em
cadeia-sucção, deglutição e respiração. Tais funções, além de vitais, são,
também, pré-linguísticas. A amamentação no seio materno - pela sua configuração
anatômica - tem grande importância para que os órgãos fonoarticulatórios se
desenvolvam de forma correta e harmoniosa.
Quando
o aleitamento materno não é possível, é comum encontrarmos o uso da mamadeira
com furos exagerados em seu bico, o que desfavorece a sucção para o bebê, e
pode levar a um padrão incorreto de deglutição - o bebê, para não engasgar,
utiliza a língua, com freqüência, como mecanismo de defesa. Como conseqüência,
haverá uma disfunção na musculatura orofacial que levará a uma alteração de
crescimento e desenvolvimento dessa região.
Incluir
alimentos sólidos na alimentação da criança com mais de seis meses é de extrema
importância. Dieta com alimentos de pouca consistência (amassados ou
liquidificados) propicia hipotonia dos músculos. Deve ser dada preferência às
frutas, legumes crus ou levemente cozidos.
Como
a preservação dos dentes e sua boa oclusão são essenciais para uma boa
articulação, pois tem efeito direto nos sons da fala, lembramos que hábitos
viciosos, como o uso da chupeta e a sucção do dedo, podem levar ao
desequilíbrio dos órgãos fonoarticulatórios, provocando distúrbios
fonoaudiológicos, alterações das arcadas dentárias e do crescimento e
desenvolvimento da face; a retirada desses hábitos deve ser feita, portanto,
até dois anos de idade, preferencialmente.
Evidentemente, diversos
distúrbios de comunicação oral não poderão ser evitados apenas com as boas
condutas e mudanças de hábitos aqui mencionados; certamente, também, nem todas
as crianças serão prejudicadas com a permanência desses costumes, pois podem
ser protegidas, por exemplo, pela característica de seu tipo facial. Temos
certeza, no entanto, que muitos problemas poderão ser impedidos ou amenizados,
a partir de uma postura consciente e esclarecida por parte da família que tem,
afinal, o papel mais importante no desenvolvimento de suas crianças.